segunda-feira, 7 de julho de 2014

Preconceito


A Construção do Preconceito

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Não é exagero dizer que qualquer pessoa homossexual assumida já foi questionada em algum momento da vida sobre quando se tornou homossexual e essa é uma pergunta  interessante, inusitada e também extremamente ofensiva. Ofensiva porque se parte do princípio que você era algo, mudou e pode vir a mudar novamente, isso pelo fato de as pessoas naturalizarem uma forma de conceber o mundo e a partir daí, tudo que foge dessa concepção se torna errado e desviado. Nesse instante nasce o preconceito.
É "comum", mas não certo, questionar o momento da vida em que uma pessoa se torna homossexual, entretanto, poucos questionam-se em que momento alguém se torna hétero, pois na sociedade em que vivemos ser hétero é natural e não há motivos para se questionar o que é "natural, verdadeiro e universal". Sim, vivemos em um mundo heteronormativo e assim, é  há séculos, parte desse legado foi construído pela igreja que durante sua ascensão e hegemonia cuidou para que qualquer tipo de relação entre pessoas do mesmo sexo fosse endemoniada, não à toa que ainda hoje muitos associam homossexualidade a pecado ou condenação ao inferno.
A  construção da sexualidade é um mistério para muitos médicos, psicólogos, psiquiatras e pesquisadores que se debruçam sobre o assunto, é difícil dizer se o ser humano já nasce com sua sexualidade definida ou se em oposição ela é definida no processo de socialização desse individuo com o mundo que o cerca, assim como acontece com uma série de traços de sua personalidade. Hoje já se sabe que o meio exerce uma significativa influência em determinados aspectos da individualidade e pode ser decisivo em como cada um irá encarar a sexualidade, dita de forma ampla, porém saber até que ponto seria possível afirmar que o meio seria o responsável pela definição da orientação/ condição sexual é ir longe demais e não há respaldo científico para tal afirmação, ao menos por enquanto.
Ser heterossexual ou homossexual diz respeito a cada um e isso não deveria ser motivo de debate, preconceito ou recriminação, porém, tudo isso só acontece justamente pela forma como o processo de socialização individual se dá, processo que reproduz o preconceito criando em pleno século XXI seres humano intolerantes, homofóbicos, racistas e preconceituosos.
Quando falamos em socialização, nos referimos a todos os processos que o ser humano é submetido no interior de grupos sociais que se encarregam de transmitir os valores morais, éticos, culturais, entre outros. Socialização é a assimilação de hábitos característicos do seu grupo social, todo o processo através do qual um indivíduo se torna membro funcional de uma comunidade, assimilando a cultura que lhe é própria. É um processo que inicia-se após o nascimento, através primeiramente da família e depois de agentes próximos como a escola, os meios de comunicação de massas e dos grupos de referência; é contínuo, nunca se dá por terminado, realizando-se através da comunicação.

Cada indivíduo, ao nascer, segundo Strey (2002, p. 59), “encontra-se num sistema social criado através de gerações já existentes e que é assimilado por meio de inter-relações sociais”. O homem, desde seus primórdios, é considerado um ser de relações sociais, que incorpora normas, valores vigentes na família, em seus pares, na sociedade. Assim, a formação da personalidade do ser humano é decorrente, segundo Savoia (1989, p. 54), “de um processo de socialização, no qual intervêm fatores inatos e adquiridos”. Entende-se, por fatores inatos, aquilo que herdamos geneticamente dos nossos familiares, e os fatores adquiridos provém da natureza social e cultural. (UNITINS) 

A citação só reitera o que havíamos mencionado acima, reforçando a tese de que a personalidade do indivíduo é formada a partir da complexa relação entre as características inatas de cada indivíduo mais toda a carga cultural contendo valores, regras, etc., que é transmitida a ele no processo de socialização. Esta personalidade sofre intensa influência do que é exterior, da forma como esse contato com o mundo se dá, nesse aspecto é que podemos falar em construção do preconceito, já que ele é construído, muitas vezes, concomitantemente a personalidade. Vamos avançar.
Tomemos o modelo de socialização ocidental, ao qual estamos inseridos, esse modelo é profundamente permeada por valores machistas e patriarcais (não que isso seja exclusividade do ocidente, muito, mas muito pelo contrário, basta olharmos alguns grupos fundamentalistas do Oriente, veremos que há situações muito piores e bem mais graves, do ponto de vista social e humano para a mulher, por exemplo), a luta para desconstruir essa realidade rígida e opressora não tem sido nada fácil, as mulheres talvez, sejam as primeiras e mais diretamente oprimidas por essa verdadeira ditadura sexual que por séculos oprimiu, calou, neutralizou e assassinou qualquer chance ou destaque para a figura feminina, esta em verdade foi sempre relegada a segundo plano, sem muito ou nenhum destaque em grandes setores da sociedade. Basta lembrar as grandes cientistas, filósofas e pensadoras dos séculos XVIII, XIX e mesmo XX. É possível que você tenha tido alguma dificuldade em lembrar de algum nome.Talvez, porque não houve um significativo número de mulheres nesses campos e, se houve não foram devidamente reconhecidas ou divulgadas.
Mas o tema do papel e lugar da mulher é assunto (e muito importante para nós) de outra postagem. Se para a mulher heterossexual já foi e é difícil, imagine para homossexual.
O nascimento insere-nos  em um mundo que já existe, entramos em um trem em movimento que não permite paradas, reformulações e é bem restrito a reformas, ou seja é bastante complicado tentar desviar a rota, escolher outro caminho ou mesmo se negar a fazer parte da viagem. Citando um artigo do CMI:

[...] Em nosso processo de socialização a assimilação das ideias opressoras hegemônicas como o machismo, a competição, o racismo, a exploração, a hierarquia, a exclusão entre outras nojeiras, são impostas sem possibilidade de questionamento durante toda nossa formação e desenvolvimento enquanto humano e enquanto ser social. Nessa longa viagem apenas aprendemos que as coisas são como são porque simplesmente são, e isso é natural. (CMI, 2012) 

A complexa teia de relações que irá reproduzir os valores vigentes relacionados ao machismo, homofobia  e o preconceito de forma geral,  se inicia ainda na infância da seguinte forma: é natural que os meninos brinquem com carros, bola, se envolvam em futebol, esportes de luta ou atividades tidas como menos delicadas; já as meninas são presenteadas com as bonecas e todo tipo de adereços possíveis como a casa com geladeira, fogão, cama (O lugar da mulher em nossa sociedade?!), as brincadeiras serão mais delicadas as roupas serão rosas em oposição ao azul, dos meninos e, desde muito cedo já é retirado do ser humano a possibilidade de escolha dentro dessa sociedade com os valores já muito bem estabelecidos. 
Ao indivíduo é imposto o futebol, a boneca, "a casinha", a luta, o rosa e o azul, e essa forma de ser indivíduo se naturaliza a tal ponto que a partir de determinado momento o menino irá repelir o rosa, a boneca, a casinha e a menina em oposição irá rejeitar tudo aquilo que ela aprendeu nesse processo de ingresso social fazer parte do mundo dos meninos. Percebam que não se trata de uma repulsa natural ao que é desagradável a criança, mas sim de algo que foi socialmente institucionalizado a ela repulsar. Felizmente, esta lógica dominante não funciona perfeitamente, afinal, e hoje mais que no passado, vivemos uma época de grandes levantes, aprendemos a debater, a questionar, a criticar e principalmente a não permanecer calados diante das injustiças e arbitrariedades construídas ao longo da história da qual também somos fruto.
A relação que propomos acima também não é direta, claro que sempre haverá exceções, mas o importante a frisar é o fato de que é assim que a criança é inserida no mundo, assim que ela é socializada. Não à toa que os mecanismos de opressão e recriminação são reproduzidos, as oposições de gênero são continuamente repostas e assim, ainda será até a luta contra o preconceito ser vencida, o que não será tarefa fácil nem acontecerá quando o sol despontar no horizonte amanhã, já ficou claro que a batalha não é fácil, as tentativas não são poucas, o processo é demasiadamente complexo e o número de pessoas que aceitam ficar na linha de frente é reduzido, entretanto, o mais importante é saber que hoje as vozes não mais simplesmente se calam, o discurso hegemônico não mais domina plenamente e o processo de socialização já se diversificou e existem alternativas a esse rolo compressor que só repõe e reproduz constantemente o preconceito.
  
 Referências
http://www.midiaindependente.org/pt/red/2012/06/508575.shtmlhttp://www.unitins.br/BibliotecaMidia/Files/Documento/BM_633856684394224298apostila_aula_2.pdf

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Héteros


Todos não somos Héteros!

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 Quanto mais avançamos no tempo, mais uma ala de seres humanos insiste em retroagir, é inconcebível que em pleno ano de 2014 alguns gritos ainda ecoem e algumas falas ultrapassadas ainda encontrem vitalidade e continuidade.
Recentemente circulou na rede um texto de um famoso pastor, no qual ele afirma que os indivíduos aprendem a ser homossexuais por imposição ou aprendizado, no mesmo texto há referências à psicologia, bíblia e genética, o autor do artigo caminha livremente entre todas as áreas possíveis para construir seus argumentos falhos, incoerentes e extremamente absurdos, e não é a primeira vez que ele o faz. Digno de um palanque em praça pública com direito a uma multidão na escuta para ouvi-lo, no que ele considera ser uma revelação, uma verdadeira mensagem que vem em busca de salvar almas pecaminosas e perdidas que se deixaram influenciar por um mau sem remédio, ao abrir as portas de sua alma e corpo para o pecado fazer morada. 
Alguns pontos precisam ser esclarecidos quando simplesmente afirmamos que o fato de um indivíduo ser hétero, homossexual, bissexual, pansexual, deriva de uma determinação genética ou do processo de socialização e desenvolvimento da personalidade, não que concordemos com uma afirmação ou outra ou mesmo que ambas sejam mutuamente excludentes, porque não são. Mas vamos considerar a afirmação veiculada no texto mencionado, de que a homossexualidade é aprendida ou imposta.
Tem sido recorrente uma falácia que vem se convencionando chamar de “Ditadura Gay”, são dezenas de artigos (sem credibilidade inclusive), páginas no facebook, e mais um sem número de referências de pessoas que são a favor e acreditam estar vivendo uma ditadura gay, pois têm a sensação de que a qualquer momento seus filhos e amigos podem se tornar homossexuais; têm medo de ser atacados por homossexuais nas ruas; pensam que os casais formados por pessoas do mesmo sexo são uma afronta a sociedade e estão cada vez menos preocupados em demonstrar o quanto são felizes em qualquer local (públicos inclusive. Que Absurdo!). 
A grande verdade é que não existe nenhum tipo de ditadura gay, estamos à anos-luz de algo assim, mas é impossível compreender o porquê de tantas pessoas (principalmente os héteros, nesse caso por motivos óbvios) se incomodarem tanto com essa tal "ditadura", afinal de contas, o mundo está há muito mais de 2.000 anos sob uma ditadura hétero e poucos reclamaram nesse nível.
Muito se discute se a homossexualidade é genética ou social, mas pouquíssimas pessoas colocam em evidência que a discussão não é sobre homossexualidade e sim sobre a sexualidade humana de forma ampla. Se o fato de alguém ser gay estiver relacionado a sua genética a heterossexualidade também estará. Se uma é socialmente desenvolvida o mesmo vale para outra e, isso tem de estar bem claro em qualquer discussão que envolva tais assuntos.
Ser hétero não é natural, somos desde o momento em que o espermatozoide fecunda um óvulo, concebidos de acordo com um sexo e gênero já instituídos e não existe opção, não existe construção, ao menos num primeiro momento. Nosso gênero e sexualidade são impostos de forma heterossexual.    Dizer que homossexualidade é imposta derivaria dizer que vivemos em uma sociedade em que a homossexualidade é comum, vivida abertamente e não é alvo de preconceito e discriminação. Nossa sociedade permite isso? Na verdade acontece o contrário, apenas a heterossexualidade é vista como natural e comum, nós somos ensinados a ser assim, a heterossexualidade é imposta, assim como nosso gênero. 
Não é, necessariamente, natural alguém que nasce com uma vagina sentir-se atraído por alguém que nasceu com um pênis, isso é ensinado como natural e interiorizado desde quando se é criança  e, claro que cedo ou tarde esse indivíduo irá encarar isso como algo que é natural a ele. Ter um pênis não significa ser, necessariamente, homem, assim como ter uma vagina não significa ser, necessariamente, mulher, assim como não devemos confundir os termos homem x mulher; macho x fêmea; masculino x feminino; hétero x homo. Cada um desses termos representa uma característica particular e podem ser usados como sinônimos especialmente por pessoas (mal instruídas e/ ou mal intencionadas) na tentativa de justificar que o natural é seguir sua natureza (socialmente criada), mas isso é assunto para outro post. O que resta dizer é que não se sabe, de fato, o momento em que definimos nossa sexualidade, se não for genética, então tanto héteros quanto gays são construídos pela sociedade. Nesse caso é fácil olhar para o lado e ver que sem dúvida todos somos doutrinados à heterossexualidade.
Se não existir o gene gay, também não existe o gene hétero. Se alguém é capaz de afirmar que o indivíduo aprende a ser gay em seu processo de socialização, então afirmamos que igualmente aprendemos a ser héteros no mesmo processo. Nascer com um pênis ou uma vagina não determina por quem você se sentirá atraído sexualmente (Será que o psicólogo pastor sabe que identidade de gênero e orientação sexual são coisas diferentes?).
Durante boa parte da vida é imposto  às pessoas um gênero e uma orientação sexual específica, nessa sociedade machista e profundamente heteronormativa dizer que pessoas se tornam gays por imposição ou influência seria uma piada digna de gargalhadas debochadas e gritantes, não fosse a dose exagerada e mascarada de preconceito e homofobia.
Por acaso os modelos de família feliz são formados por pessoas do mesmo sexo? Branca de Neve, Cinderela ou Bela Adormecida, eram travestis?
Quer afirmar que as pessoas podem se tornar gays? Então afirme também: Todos nós somos obrigados a ser héteros de forma impositiva, violenta e massacrante.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

A Copa

Por que não devia ter Copa?!


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 De uma forma ou de outra todos os brasileiros em algum momento da vida tem algum tipo de contato com o futebol de forma espontânea ou forçada. O futebol  está na TV, nos jornais, na internet, nas ruas, em casa, no trabalho, é comentado em restaurantes, cinemas, bares ou no taxi, resumindo não é possível fugir tanto do assunto, mesmo que se tente com garra.
Por uma série de motivos que não cabem ser levantados aqui muitas vezes o amor pelo esporte começa ainda na primeira infância motivado principalmente, e as vezes só pelo pai, especialmente quando se trata de filhos do sexo masculino, por que afinal de contas pra ser menino macho tem que gostar de bater bola, driblar e marcar gol. Desde o nascimento os pais lutam para que sua descendência siga também suas tendências, se compram camisas de times, bolas, adereços temáticos, entre outros. Poderíamos levantar uma série de fanatismos imbecis que afetam os filhos de pais com uma drástica falta de bom senso, mas também deixemos esse assunto para outra hora.
Muitos brasileiros e estrangeiros dizem que o futebol aqui é uma paixão, chegam afirmar que é ele um elemento de identidade nacional (outros mais corajosos diriam que é o único). Nosso futebol é um dos melhores do mundo, não necessariamente por que somos bom nisso, mas talvez e também por quase não haver incentivo e investimento em qualquer outro tipo de esporte, como acontece em outros países, mas isso também não é nossa questão central. O futebol permeia a vida de uma maçante parte dos brasileiros, isso é inquestionável, e desde que o esporte chegou aqui em 1895 trazido por Charles Miller ganhando a simpatia da elite para depois invadir as várzeas e cair no gosto popular ele se tornou um símbolo de representatividade brasileira, assim como o carnaval para muitos. Mas até que ponto uma paixão "nacional" deve servir de camuflagem, justificativa e legitimação para a cobertura de um evento que pode definitivamente trazer uma série de ônus para o país, o mesmo país de pessoas apaixonadas.
Milhões de brasileiros aguardavam ansiosos, torciam, oravam e para muitos a oração foi ouvida e o Brasil foi escolhido como a sede da Copa Mundial de Futebol da FIFA em 2014, as reações foram as mais variadas e extremas possíveis. Se de um lado havia uma parcela que gritava, chorava emocionada e custava a acreditar que o maior evento ligado a nossa única "paixão" comum iria acontecer no solo em que pisamos desde o nascimento, nosso chão, nosso Brasil. De outro uma massa que se fez ouvir gritava por menos Copa e mais saúde, educação, dignidade, justiça, segurança, coerência, fim da corrupção, menos miséria, afirmavam categoricamente que dentre todas as prioridades sociais brasileiras a Copa não deveria entrar em uma lista das 600 maiores, menos ainda ser considerada como prioridade social.
O Brasil e o brasileiro são conhecidos e reconhecidos, por ser um povo louco apaixonado por futebol, mas também por possuir memória deficiente, se habituar a qualquer situação adversa imposta sem questionar categoricamente, por ter sedimentado em sua mente que cedo ou tarde ou muito mais cedo ou muito mais tarde, mas sempre, tudo acaba em pizza. Sem sombra de dúvida foi assim que muitos encararam a posição de uma parcela considerável de brasileiros que se colocaram em uma posição contrária a realização do mundial de futebol em nosso território. Muito bem, as vozes não se calaram, as manifestações só aumentaram, a essa altura até podemos dizer de forma conformada "Vai ter Copa", mas podemos igualmente dizer "Vai ter manifestação, protesto e brasileiro questionando também".
Não tem sido poucos os artigos, matérias, textos, vídeos, entrevistas, campanhas, e tudo mais que o mundo da comunicação permite, que estão falando tanto do legado negativo quanto positivo que será deixado a nós pelos jogos, os apaixonados como qualquer apaixonado, parecem cegos, não querem ver a situação que estamos vivendo e o que está por vir. Se o amor é cego, a paixão é asfixiante, pois ela é capaz de fazer estragos ainda maiores. O Brasil não era definitivamente para ser o país da Copa. Porque se essa será a Copa das Copas, nós ainda estamos a anos luz de ser o país dos países.
É inegável que boa parte da população está condicionada, poderíamos até dizer acorrentada, a mídia que se faz legitimadora e que dessa vez, por motivos bem conhecidos para os mais esclarecidos, até quis mostrar que o Brasil não estava tão bem preparado assim para os jogos. Os telejornais de maior audiência mostram os atrasos, as deficiências, alguns abusos, entre outros "probleminhas", entretanto não por querer uma sociedade consciente, longe disso, mais por conveniência, mas ainda assim nos últimos dias tudo se converteu em alegria e acerto, tudo está pronto. O brasileiro, o Brasil conseguiu. A verdade é que estamos longe de ter conseguido qualquer coisa.
O montante total da verba pública gasta com a copa gira em torno de R$ 8.000.000.000,00, não se assuste com os zeros, infelizmente não conseguimos não acreditar que houve corrupção, lavagem de dinheiro e outros esquemas já conhecido de nossos dirigentes, políticos, empresários, etc. o que faria este valor multiplicar ou triplicar, além é claro de que mesmo este valor de 8 bi já possa estar superfaturado ou ter sido fruto de má emprego e ineficiência de gestão. Lembrando que este não é o montante total investido,  houve recursos vindos de outras fontes inclusive privadas, que faz o orçamento total ultrapassar os 28 bi de reais. Em pesquisas básicas encontramos algumas alternativas para esse dinheiro caso fosse aplicados em melhorias sociais de fato para o povo brasileiro, como a construção de 8 mil escolas; construção de aproximadamente 96.000 unidades básicas de saúde; contratar 2 mi de professore de ensino médio por ano; os R$ 7,1 bilhões investidos nos estádios poderiam ser usados para construir 2.842 km de rodovias, mais da metade da BR-116, maior do país, ou 1.421 km de ferrovias. Inúmeras outras melhorias poderiam ser feitas com todo o dinheiro, basta pesquisar para atestar o fato, mas isso os telejornais e mídias de massa não estão fazendo tanta questão de nos falar.
Ao receber o mundial de braços abertos, abrimos também nossos braços, bolsos, pernas e tudo mais passível de ser aberto a FIFA, a autoproclamada Organização sem Fins Lucrativos, o que soaria como piada, não fosse a revolta imediata. Esta organização reguladora máxima do futebol mundial com 209 associados (entre países e territórios) implanta um verdadeiro - usando um certo, mas talvez nem tanto assim, exagero de uma colega - estado de exceção nos países que recebem os jogos. Em 2010 na copa da África do Sul, a organização criou um tribunal próprio para julgar delitos cometidos durante a realização dos jogos, aqui no Brasil ela passou por cima das leis que proibiam a venda de bebidas alcoólicas no interior dos estádios, afinal não podemos esquecer que uma das patrocinadoras dos jogos é uma famosa marca cervejeira, ou seja, não importa a segurança ou o que vai acontecer com as pessoas que estarão nos estádios por consumir bebida alcoólica, mas ela irão consumir. E assim a FIFA passa por cima da soberania nacional, social e qualquer outra que possa existir, atropela as questões de segurança e as nossas particularidades em prol do seu próprio benefício. Nós somos invadidos, saqueados, roubados e no fim apenas devemos permanecer calados. A mesma instituição que se diz sem fins lucrativos e humilde tem uma reserva de 1 bi de dólares, além disso financiou parte do filme que conta a história do atual presidente da federação Joseph Blatter, algo em torno de 30 bi de dólares mais de 80% do orçamento do filme, algumas fontes dizem que o valor seria bem mais alto e a decisão de bancar boa parte do filme teria vindo do próprio Blatter e para muitos o lançamento as vésperas da copa não teria passado de uma estratégia que envolve o próprio presidente que tenta a reeleição pelo quinto mandato. Tirem sua conclusões. Não pára por aí,  a humilde instituição sem fins lucrativos , afirmou que iria distribuir em 2014 198,7 mi entre os associados, fruto de lucros obtidos, essa informação é veiculada pelo O Globo, contraditória essa FIFA. Não?  O mesmo presidente em uma entrevista foi perguntado sobre o que poderia ser feito para tornar o futebol feminino mais popular, ele sugeriu que as mulheres usassem shorts mais curtos. É meus caros olhem com que tipo de pessoa e instituição estamos lidando.
A FIFA definirá preços, leis, perímetros seguros, resumindo, a FIFA será nossa autoridade máxima durante um mês e ninguém parece se importar muito com isso, estamos sendo invadidos, pessoas estão perdendo suas casas, direito de ir e vir, de se mobilizar dentro de seus próprios bairros, mas tudo está bem, afinal estamos recebendo nossa paixão. O futebol voltou pra casa e os brasileiros, também poderão também voltar?
A excelentíssima presidenta do Brasil recentemente se pronunciou em rede nacional, pronunciamento que revoltou ainda mais os revoltados e não convenceu os indecisos. Os aeroportos não ficaram prontos, os estádios não estão prontos (a Arena Corinthians ainda tinha obras na área externa menos de quinze dias antes dos jogos), não importa a verba direcionada a educação nos últimos 8 anos, o que importa é que os 8 bi que financiaram obras para a Copa são frutos de impostos que deveriam ser direcionados as áreas de benefícios direto aos que pagaram, o povo, e não para financiar eventos como a Copa do Mundo. Quando a FIFA se for, levará também os lucros e nós ficaremos sim com o ônus. Os trabalhadores não atravessam a cidades em direção ao trabalho de avião, os pobres não terão acesso aos shows e eventos superfaturados que se realizarão nos estádios, só Deus (e talvez nem ele) sabe qual será o destino da Arena da Amazônia que sequer possui times de peso para jogar lá. Os empregos gerados pelas obras estão se findando. E definitivamente as obras de infra estrutura tem que ser prioridade nacional e não ser aceleradas porque um evento mundial irá invadir o território, como disse nossa presidenta. Obras desse tipo tem que beneficiar antes de mais nada, brasileiros.
Somos apaixonados, somos receptivos, choramos, cantamos, vibramos, somos um povo feliz, mas também queremos justiça, igualdade e humanidade. Dessa vez parece que o povo não se calará nem permanecerá conformado. Nós temos inúmeras prioridades e a Copa não é uma delas.
O Brasil vai ter copa sim, mas esperamos ter grandes mudanças, principalmente na mentalidade dos brasileiros também.


Esse Jornalista Explicou para os Americanos... por videosvirais

terça-feira, 10 de junho de 2014

A Culpa é das Estrelas ☆ ☆ ☆ ☆

A Culpa é das estrelas, O.K. ? Talvez!


Não foi fácil, para muitos, a longa espera pela estreia do aclamado romance "A Culpa é das Estrelas" de John Green. Não podemos negar que vivemos o ápice de uma certa "moda" literal, os brasileiros estão lendo mais, os jovens brasileiros estão lendo mais e isso é inquestionavelmente  benéfico, afinal a leitura proporciona bens e qualidades sem paralelo.
Os romances têm tido um sucesso especial, basta lembrar de obras que vêm ganhado seguidores assíduos, como "A Saga Crespúsculo", "A Trilogia Jogos Vorazes" e nosso real e infinito "A Culpa é das Estrelas", que está fazendo centenas de crianças, jovens, adultos e idosos se desmancharem em lágrimas pelas salas de cinemas no Brasil e no mundo,  e é sobre ele que vamos tecer alguns comentários.
O título do livro (para os que leram) é convidativo e curioso. Afinal que culpa tem as estrelas? É a primeira resposta que pretendemos encontrar, mas o desenrolar da história da adorável, triste e conformada Hazel Grace vai fazendo com que esqueçamos da resposta para focar nossa atenção apenas nela, a protagonista da narrativa. Somos envolvidos pelo drama, sofrimento, vida e certo sarcasmo com que nossa garota encara seu estado terminal, estado que ela mesma não trata de forma cruel, ou ao menos não transpareça. A única preocupação dela é com quem está a sua volta, não é a toa que se incomoda tanto com a dedicação quase que integral dos pais e o amor do apaixonado "Gus".
"Hazel é sincera sem ser cruel", é assim no livro e é assim na adaptação para os cinemas, a propósito lindo papel e ótimo tom que a atriz Shailene Woodley dá a personagem. Aproveitando para dar os crédito a quem merece, o elenco de forma geral cumpriu muito bem seu papel, embora boa parte dos atores não sejam familiares a maioria dos expectadores, a equipe como um todo fez um ótimo trabalho, um comentário especial vai para o ator Sam Trammell, pai de Hazel na trama, ele consegue dar uma humanidade sensivelmente tocante a personagem nas poucas aparições que faz. Transmite a verdade de um pai que  precisa conviver com a ideia de que pode perder a única filha a qualquer instante, toda a sensibilidade dele se concretiza e emociona na cena em que ele recebe a família no aeroporto. Apenas levanta o cartaz (Minha linda família e Gus) e chora, aquele momento é sem dúvida uma das cenas mais acertadas do longa. Ansel Elgort como Gus desempenha bem o papel e como outros já comentaram, não é uma impecável atuação, entretanto para o propósito e em relação ao roteiro pensado ele está muito bem. Não dá pra esquecer da simpática Lotte Verbeek, como a assistente do amargurado escritor Peter, e do amigo que não é capaz de voltar a enxergar um mundo sem o Gus, Isaac vivido por Nat Woolff, enfim um elenco em sintonia, numa história que deu certo.
Durante a última semana a internet foi bombardeada com uma série de críticas, em sua maior parte positiva, a adaptação para as telona do Best Seller "A Culpa é das Estrelas", passei três dias lendo verdadeiros tratados (exagero meu rs) de elogios a atuação, montagem e adaptação, e embora já soubesse que não encontraria nada muito além do que já havia lido no livro, confesso que as repetidas leituras incutiram uma expectativa maior em mim, comecei a acreditar que poderia encontrar algo além no longa, fosse na mudança de algum rumo da história origial, fosse pela atuação arrebatadora de alguns dos personagens (especialmente os protagonistas), resultado, entrei na sala de cinema com uma expectativa beirando as nuvens e não vou negar: claro que me decepcionei, e vou tentar dizer o por quê disso.
A sala da qual fiz parte estava vazia, o que não significou ausência de choros sufocados e tímidos soluços. Penso, reflito, penso novamente, e não consigo encontrar uma resposta definitiva do motido de essa história em particular ter mexido de uma forma tão tocante com tantas pessoas. De um lado, claro, nós não estamos e talvez nunca estaremos prontos para lidar com a morte e isso é difícil em qualquer idade, porém quando falamos em morte de pessoas de 13, 14, 15 ou 19 anos de idade as coisas se tornam ainda mais difíceis, porque em tese pessoas desta idade deveriam estar se preparando para começar a vida e não para morrer. Se levamos em conta que a salas de cinema estão sendo lotada especialmente por adolescentes que beiram a idade de Hazel e Gus, a coisa fica ainda mais sensível, porque todos no momento se colocam no lugar da personagem. Outr o ponto que causa comoção é, obviamente, o amor entre os dois protagonistas e a forma como eles vão desenvolvendo os laços (muito mais precisos e detalhadados no livro) até o momento em que o pequeno infinito de Hazel e Gus se finda.
A Culpa é das Estrelas não traz grandes novidades nem um espetáculo a parte no que diz respeito a adaptação e atuação. Por ser bastante fiel (mas não completamente) ao livro, quem o leu não encontra nenhuma novidade nem novos motivos para se emocionar a não ser os já existentes na leitura. Em muito a história traz velhos e infalíveis clichês ( não é necessariamente uma crítica), com exceção do final. Se trata do romance, do amor adolescente entre a garota um tanto quanto tímida e pouco desenvolta socialmente (isso fica mais claro no livro) com o cara popular, bonito e atraente, mas que ao contrário de todos os outros romances teens e pelo estado das coisas, não acontece no corredor, das nossas já conhecidas, escolas ou universidades americanas, mas no grupo de apoio a jovens com câncer.
Há algumas coisas que poderiam ter sido melhores trabalhadas no filme, como o O.K. de Hazel e Gus; o pequeno infinito tão significativo na história dos dois que só vai ganhar algum destque na última parte da trama;  o próprio envolvimento dos protagonistas que no livro não é tão óbvio, ao menos no início, o amor singelo e profundo que iria surgir entre os dois (não que isso não fosse previsto pelos leitores), entre outros detalhes.
Nas linhas acima eu coloco que a adaptação cinematográfica não é completamente fiel a obra literária, embora eu pudesse dizer que sim, caso não fosse por dois atos que foram cortados do filme, que são:

 - O momento em que Gus discute com a mãe sobre a viagem para a Holanda na ocasião em que eles descobrem que o câncer reapareceu e ela tenta o convencer a não viajar.                  
-  Depois a cena em que Gus conta para Hazel da ex-namorada que tinha um tumor na cabeça e foi perdendo aos poucos as capacidades até falecer. Essas cenas que estão no livro são, na minha opinião, bastante importantes para a história, mas ficaram de fora da sequencia.

A história é bonita, o roteiro bem construído, os personagens bem estruturados, concordo que o resultado foi ótimo e que a sintonia final do filme dá o tom certo a adaptação, mas não consigo ver muita coisa além disso, talvez seja pela superexpectativa que eu criei (ou foi criada em mim), talvez por eu ser um ser humano frio e calculista (brincadeira), mas o fato é que saber de quem é a Culpa de todo o destino cruel que nos é entregue não me fez cair aos prantos. Hazel é doce, sarcástica, coformada e as vezes adolescente, Gus é bem comum, não alcança o que tanto desejou em vida, a permanência na lembrança, no fim são apenas adolescentes sem nada de tão especial e talvez seja por isso que o filme faz tanto sucesso. O fato de os personagens nem serem tão especiais assim é que os torna especiais.
A Culpa pode ser das estrelas sim! E eu recomendo que você descubra o por que assistindo e claro lendo o livro. 

domingo, 6 de abril de 2014

Gay

Ser Gay é Moda?!

Image courtesy of Serge Bertasius Photography at FreeDigitalPhotos.net

Hoje ao sair nas ruas é cada vez mais comum presenciarmos a cena de pessoas do mesmo sexo trocando palavras e gestos de carinho, coisas que em um passado nem tão distante assim, eram praticamente exclusividade de casais heterossexuais.  
Quem estava vivo há 20, 15 ou 10 anos acharia loucura ou alucinação se alguém dissesse que uma parcela considerável da audiência brasileira, estaria torcendo para que um casal formado por dois homens alcançasse o final feliz em um folhetim do horário nobre de uma das principais emissoras do país. Um avanço astronômico, alguns diriam. 
A luta pelos direitos LGBT não se iniciou há cinco, seis, oito meses ou um ano atrás, nem tanto é uma luta legítima da mídia televisiva ou impressa brasileira, muito pelo contrário, essa luta é das pessoas que diariamente não se calam perante o preconceito, que se articulam em movimentos, grupos, redes e que não permitem que suas vozes sejam caladas por nossa sociedade machista, heteronormativa e profundamente preconceituosa.
A delineação de um movimento gay, organizado, articulado e voltado para a luta dos direitos dessa minoria se deu por volta dos anos 1970 em meio há uma série de particularidades políticas e sociais do momento, como a repressão feroz da ditadura militar e a eclosão da epidemia de HIV na década de 1980. Concomitantemente a isso foram nascendo movimentos organizados de homossexuais como o Grupo de Afirmação Sexual de São Paulo - SOMOS que se dissolveu em 1983; o Grupo Gay da Bahia – GGB fundado em 1980 e registrado como entidade sem fins lucrativos em 1983. 
A década de 1990 é um marco na luta, foi nesse período que  eclodiram grupos organizados por todos estados do país. Em 1995 nasce a maior rede de organizações LGBT brasileira, a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Travestis – AGLBT cuja missão segundo a própria rede é a de ”Promover ações que garantam a cidadania e os direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, contribuindo para a construção de uma sociedade democrática, na qual nenhuma pessoa seja submetida a quaisquer formas de discriminação, coerção e violência, em razão de suas orientações sexuais e identidades de gênero.”  
Durante certo período vários desses movimentos se uniram para levar a frente à batalha contra o HIV, que foi uma verdadeira epidemia entre os homossexuais, o que inclusive propiciou uma imagem distorcida dos gays em relação ao vírus, não é incomum ainda hoje ouvirmos frases e opiniões do tipo: “Todo gay tem HIV.” Ou: “Só faço sexo com mulheres, logo não corro risco de contrair AIDS”. A essa luta se alinhou, é claro, aquela pela garantia dos direitos, combate à homofobia e principalmente pelo respeito e paz aos homossexuais, porque ser gay na sociedade em que vivemos significa também correr alguns riscos. Quantas vidas já foram perdidas? Tantas outras violentadas gratuitamente das mais diversas formas seja moral, física e/ou psicológica  na rua, em casa, na escola e no trabalho.
Hoje o balanço que fazemos desses mais de quarenta anos de luta, pode ser positivo, caso consideremos os avanços que os homossexuais têm alcançado, como a possibilidade da união estável, o casamento civil com todos os direitos que isso acarreta para um casal, a adoção de crianças, etc. O controle e tratamento do HIV também não pode ser esquecido como uma conquista alinhada entre os movimentos organizados e a iniciativa pública, mas é claro que ainda há muito para caminhar e muito a se conquistar, basta lembrar do caso do garoto encontrado morto sob o viaduto Nove de Julho há algumas semanas, cujas fortes evidências apontam para crime motivado por homofobia.
Hoje os gays vão as ruas, ocupam altos cargos nas empresas, são atores, apresentadores, médicos, administradores, empresários, autores, enfim, pessoas que em muitos casos não precisam esconder o rosto ou viver duplamente para ser quem são.  E, embora o público pareça tratar os casais gays na teledramaturgia com naturalidade e até mesmo certa torcida, talvez não imagine o longo caminho trilhado até aqui.
Casais gays na TV sempre foram sinônimos de rejeição, basta citar casos como "A Próxima Vítima (1995)" em que os papéis interpretados por André Gonçalves e Lui Mendes foram alvo de alta rejeição, levando o ator André Gonçalves ser agredido em uma rua por um grupo de homens; em "Torre de Babel (1998)" o casal de lésbicas formado por Christiane Torloni e Silvia Pfeifer morreu na explosão de um shopping, fim motivado pela baixa aceitação do público; não foi diferente em "Desejos de Mulher (2002)" com o casal formado por José Wilker e Otávio Muller, ao longo da trama deixaram de usar aliança, mesmo vivendo sob o mesmo teto e adotaram uma postura espalhafatosa e estereotipada, motivada também pela baixa audiência. 
Assim os homossexuais foram tratados ao longo de todos esses anos na TV, apesar do gay estar presente em diversos papéis, ele sempre foi ou a bicha espalhafatosa (estereotipada) ou o homem de família enrustido, porém as tentativas de mostrar o homossexual que também tem uma "vida comum", um companheiro (a), que ama, chora, sofre, etc., nunca foi bem vista, cenário que está mudando recentemente.
O que parecia impossível está se concretizou, uma uma parcela considerável da população torceu para que o Niko (Thiago Fragoso) e o Félix (Mateus Solano) terminassem juntos com direito a final feliz e beijo para concretizar a união dos dois. A pergunta que fica é: O que mudou na mente das pessoas? Algo de fato mudou mesmo?
O gay tem virado uma rotina na mídia e há uma manobra quase que explícita de diversos meios de comunicação para uma maior aceitação dessas pessoas. Entretanto, cabe perguntar qual a motivação e até quando isso vai durar? E o mais importante e que poucas pessoas têm parado para pensar é ate que ponto a aceitação tem mesmo que partir dos apelos e manobras da mídia. Porque agora é bonito o casal de homens. Agora eles podem andar de mãos dadas, casarem-se e ter filhos. Mas e a luta legítima e dura das pessoas anônimas que ao longo de todos esses anos vêm batalhando por mais direito, mais igualdade e mais justiça? 
Não podemos perder de vista que por anos a própria mídia implicitamente se mostrou contrária à causa homossexual, às vezes se abstendo da discussão, por outras relutando em mostrar um gesto de carinho qualquer que fosse entre pessoas do mesmo sexo. Está mais que claro que a mesma mídia que agora prega esse discurso, também inibe seus funcionários de assumir publicamente sua sexualidade, caso esta não esteja dentro dos padrões “normais” da sociedade.
O preconceito não cessou nem vai cessar tão cedo, da mesma forma não podem ser os filmes, novelas e apelos midiáticos que devem orientar as concepções, opiniões e visões de mundo das pessoas, até porque se assim for, estaremos completamente nas mãos desse instrumento que sempre está ao lado que é mais favorável a si mesma e ponto. Se hoje o gay, a lésbica, o transexual, o bissexual, está começando a ganhar espaço e conquistando direitos fundamentais do ser humano, isso é devido aos vários anos de luta organizada por parte de todos os movimentos.
         Ser gay está na moda. Ser gay está na novela. Novelas acabam. Modas vêm e vão. É preciso ter consciência de quem nós somos e do que queremos. Se passarmos a concordar com apelos midiáticos e aceita-los sem questionamentos, jogamos fora as vidas que se perderam, o sangue que já foi derramado, a luta que nunca parou e elegemos como a maior defensora dos direitos dos homossexuais a novela das 21:00. 

Referências



Grupo Gay da Bahia – GGB. http://www.ggb.org.br/ggb.html
Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – ABLGBT. http://www.abglt.org.br/port/index.php


Gays e direitos civis: vocês sabem o que já foi conquistado?. http://ladyrasta.com.br/2011/04/04/gays-e-direitos-civis-voces-sabem-o-que-ja-foi-conquistado/

sábado, 1 de fevereiro de 2014

O Beijo!

Respeitável Público: O Beijo!

Depois de anos, um número razoável de folhetins, alguns protagonistas e um bom tempo de trabalho junto ao público brasileiro, uma das maiores emissoras em audiência e arrecadação de nosso país decidiu por enfrentar o preconceito e exibir o tão aclamado, rejeitado, pedido e esperado, beijo gay.
Felix e Niko selaram sua união e amor em uma sequência de três beijos tímidos, entretanto muito bem elaborada, foi um tapa na cara de uma sociedade machista, religiosa e retrógrada, um ato, muito tardio, diga-se de passagem, contra todo tipo de preconceito que os homossexuais vêm sofrendo ao longo dos anos não só no Brasil. Estamos diante de uma quebra de paradigma, estamos diante de um fato histórico que vai mudar daqui em diante a concepção de muitas pessoas em relação aos homossexuais, é triste que essa mudança tenha que partir de um apelo midiático e não tenha sido resultado direto da luta legítima do movimento que há anos batalha pelo reconhecimento dos direitos e liberdade individual e coletiva dos homossexuais.
Milhares de pessoas esperaram e vibraram com um único beijo, um ato tão simples e banal, cuja importância ideológica no contexto não tem tamanho. A mudança da concepção e pensamento do público em geral deve ser considerada, principalmente quando comparamos personagens gays de outras novelas que não tiveram a mesma recepção dispensada a Félix e Niko, na verdade o gay mais bem recebido até hoje sempre foi o gay estereotipado, sozinho, solitário, cuja vida sempre era algo um tanto quanto coadjuvante.
No momento da cena eu estava em um bar e presenciei as mais variadas reações. Desde gritos sufocados cuja sensação passava uma comemoração vitoriosa, até falas abafadas de pessoas que condenavam o que acabaram de ver, claro, não poderia ser diferente. Apesar de finalmente termos assistido ao que muitos chamam de, equivocadamente, “primeiro beijo gay da TV”, isso porque o SBT em “Amor e Revolução” transmitiu um beijo entre duas mulheres, bem mais ousado , digamos, ainda assim não podemos negar que a emissora em questão tem um alcance e influência muito maior e a cena acontecer num folhetim transmitido por ela, tem um enorme impacto inquestionavelmente.
A sensação que permanece é a de insegurança, o beijo aconteceu. E agora? O que vamos fazer com isso? Para onde vamos caminhar? Que caminhos de discussão vamos trilhar?
Como nunca antes, temos um terreno aberto para nos mostrarmos, para falar, conversar e discutir. Temos espaço, coisa que era inimaginável há cinco anos.  A Globo, apesar de todos os pesares que eu levanto no próximo texto que publicarei aqui, sem sombra de dúvida deu um chute na cara de muita gente colocando em xeque posições extremadas e equivocadas. Onde fica a cura gay? Para onde vão as posições mantidas pelos nossos ilustríssimos parlamentares nesse novo contexto?
O que mais deve ser pesado nessa balança é que pela primeira vez a relação entre pessoas do mesmo sexo foi tratada com naturalidade, o amor entre Felix e o Niko foi representado, assim como é feito para o amor entre casais heterossexuais, com leveza e maturidade, isso possibilita que diversas visões distorcidas dos relacionamentos entre gays possam ser quebradas e desmistificadas, finalmente, devido ao alcance que felizmente ou infelizmente só uma emissora de TV desse porte conseguiria. Resta saber e esperar as cenas do próximo capítulo.
Nossa torcida é sempre pelo avanço, pelo diálogo, respeito e liberdade de cada indivíduo em exercer sua cidadania e personalidade por completo.