sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

HIV - II

                        HIV: A Entrevista
   FreeImages.com/Artist's do Nom David Dallaqua


Como antecipamos na semana passada em nossa Fanpage, o Alternnativa traz hoje entrevista exclusiva com uma pessoa portadora do HIV. Anonimamente, ela nos conta como foi descobrir ser portadora, encarar os familiares, ter tido filho, começar o tratamento e acreditar que sobreviveria, em um momento que via diversas pessoas falecendo com de Aids.
Adelaide (nome fictício) bateu um papo descontraído com o Alternnativa e, de maneira descontraída, vamos expor os principais trechos distribuídos nos tópicos que nortearam nossa conversa.

Ela começa nos falando sobre a descoberta.
Adelaide se descobriu portadora há vinte anos, ao fazer os exames de rotina durante a segunda gravidez, o primeiro filho não adquiriu o vírus. Hoje, aos quarenta e quatro anos de idade, vive bem e feliz. Afirma ela, não ter nenhum efeito colateral com os medicamentos administrados atualmente, bem como nenhuma complicação decorrente de sua condição. Adelaide é o tipo de pessoa que  porta o vírus (HIV), mas não desenvolveu a doença (Aids).    

O que mudou, de fato, em sua vida após o diagnóstico?
"Parecia que o mundo ia acabar".  É assim que Adelaide começa falando sobre esta questão. Ela nos diz que o choque inicial é bastante conturbado, a princípio pensou que poderia morrer logo, pois via constantemente na mídia, casos de pessoas que vinham perdendo suas vidas; ela citou Cazuza como um caso bastante repercutido à época. Passado o choque e medo iniciais, a rotina foi se normalizando, a grande mudança foi a administração dos remédios, cuja adaptação foi bastante complicada, com severos efeitos colaterais no início.

Em alguns momentos é necessário compartilhar alguns fatos de nossa vida com outras pessoas. Você precisou contar à alguém? Como foi o processo?
Há vinte anos, o preconceito -causado também pelo desconhecimento- era maior. Adelaide conta que teve muito medo de perder o marido e isso a deixava ainda pior, mas diz que em nenhum momento ele demonstrou qualquer sinal que apontasse nessa direção, pelo contrário, a todo momento fazia questão de deixar claro que eles estavam juntos e era, assim, que as coisas iriam permanecer. Ela segue falando que não foi fácil contar aos familiares e chegou a ouvir, de forma não direta, comentários preconceituosos; mas, que com o tempo, as pessoas foram entendendo melhor do que se tratava a sua condição.

Perguntamos à Adelaide como ela percebe o preconceito em relação aos soropositivos e o peso dele em sua vida.
O Alternnativa tem como missão fundante combater o preconceito e nós sabemos que, apesar dos avanços científicos em relação ao HIV e a Aids, o preconceito está aí e é sim um peso para milhares de pessoas que convivem com o vírus. Adelaide diz que ela percebeu sim este preconceito, que no passado ele era ainda maior, pois poucas pessoas tinham acesso à informação como hoje, não havia campanhas de conscientização amplas e difundidas, os estudos ainda estavam em fase de amadurecimento. "O peso do preconceito somava-se ao peso de saber ser portador". completa ela.

Sabemos que a aids ataca o sistema imunológico daqueles que a desenvolvem, em termos práticos não é possível dizer que alguém morreu de aids, e sim de outros vírus oportunistas que atacam a pessoa, que com o sistema imunológico deficitário, vai à óbito. Você teve algum tipo de complicação ou adquiriu algum vírus oportunista?
Adelaide diz que conviveu bastante tempo com o vírus até descobrir ser portadora, sem jamais ter desenvolvido qualquer sintoma que apontasse haver algo de errado. Também não transmitiu o vírus para seu atual companheiro.

Pedimos que Adelaide contasse um pouco sobre o tratamento.
Ela nos diz que o começo foi bem doloroso, precisou ir inúmeras vezes, no meio da noite, à prontos-socorros devido às intensas dores, sem poder jamais interromper o tratamento. Quando ela descobriu ser portadora, os medicamentos ainda eram escassos e não havia uma variedade de opções; à medida que o tempo foi passando novos medicamentos foram surgindo e o organismo começou a se habituar, o que possibilitou uma maior adaptação. Ela comenta que chegou a tomar 23 comprimidos diários, entre vitaminas para se fortalecer e os remédios para combater o HIV, hoje ela toma 6 (três pela manhã e outros três à noite) e diz  não sentir absolutamente nada.

Comentamos com Adelaide, que o Brasil faz parte do estudo da PrEP (Profilaxia pré-exposição), que pretende barrar a infecção pelo HIV de pessoas com sorologia negativa, através da administração do Truvada. A pessoa toma diariamente um comprimido; estudos têm demonstrado ser o remédio, eficaz contra a infecção. Perguntamos à ela sua opinião sobre isso, e se caso soubesse da existência de algo do tipo antes de ter contraído o vírus, se faria  uso.
Adelaide se mostra uma pessoa aberta ao dizer que apoia qualquer tipo de iniciativa que ajude a combater novas infecções e derrubar preconceitos; segue dizendo que usaria o medicamento, caso houvesse algo do tipo disponível antes de contrair o vírus.

Como nossa conversa não foi necessariamente linear, há outros pontos importantes que não foram citados nos tópicos acima. Resumimos abaixo.
- Adelaide nos disse que no início do tratamento, sua carga viral custou a baixar e que foram anos de tratamento até chegar a condição de carga viral indetectável.
 - Junto ao tratamento médico, ela fez terapia e nos disse ser fundamental este tipo de acompanhamento, especialmente para que a pessoa possa se localizar e entender melhor sua condição. Ela conta que sua situação a deixou bastante deprimida (medo de perder o marido, como ela viu acontecer inúmeras vezes com outras mulheres portadoras, medo de não ver o filho crescer, o preconceito das pessoas etc.); o acompanhamento psicológico a reanimava a cada visita.
 - Adelaide engravidou pela segunda vez, mas a filha adquiriu o vírus e faleceu de complicações posteriores.
 - Adelaide diz que os médicos admiram seu caso, pois mesmo sendo portadora e com a carga viral elevada, não demonstrou nenhum sintoma nem transmitiu o vírus para o seu companheiro com quem manteve relações sexuais desprotegidas, até a descoberta do HIV. Recentemente seu sangue foi colhido para exames, mas ainda não obteve retorno.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

HIV

Hoje, dia 1º de dezembro, é o dia mundial de combate a AIDS, como forma de apoio e conscientização trazemos um texto falando sobre avanços e alguns estudos recentes sobre o HIV. Trata-se menos de um texto de prevenção e mais sobre o preconceito que recai sobre os portadores do vírus. Como o objetivo primordial do blog é justamente propor reflexões que contribuam para debates e desconstrução de preconceitos, não poderia ser um texto diferente. Leiam, reflitam, critiquem, compartilhem. 

HIV: Um Estigma Social

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Estamos em 2015, passaram-se 35 anos desde o surgimento dos primeiros casos de Aids no Brasil. Desde então, muita coisa mudou, os campos da ciência relacionados ao estudo do vírus desenvolveram-se e avançaram, proporcionando formas menos dolorosas e mais eficazes no combate aos sintomas e à prevenção. Se durante o surto da epidemia, na década de 1980, contrair HIV significava, na grande maioria dos casos, desenvolver Aids e falecer. Hoje, os portadores podem vislumbrar e conviver com o vírus de uma maneira bem menos pessimista.
Apesar dos inúmeros avanços nos campos da ciência médica, farmacêutica, biológica etc., há ainda um grande vilão que os portadores de HIV têm de enfrentar diariamente; um vilão, por vezes, tão devastador quanto o próprio vírus: O preconceito. Os portadores foram estigmatizados desde o início da epidemia, os homossexuais passaram a ser relacionados diretamente à doença, a ponto de serem condenados por alguns como os culpados pela difusão, ou apontados por afirmações do tipo: 'Todo gay tem HIV'. Ainda hoje, os homossexuais são considerados um grupo de risco, o que os impede, por exemplo, de doar sangue em alguns países, como o Brasil.
 Os mitos em torno da doença se espalharam, dificultando a cada dia a vida dos portadores, não se sabia se respirar o mesmo ar era seguro, sentar no mesmo banco, comer com os mesmos talheres etc., não muito diferente do que ocorre sempre que se descobre uma nova doença; felizmente, as características do vírus foram descobertas e com elas os mitos caíram por terra, o que não significou, contudo, um melhor entendimento e respeito imediato por parte da sociedade. Imagine o quão difícil deva ser saber portar o vírus do HIV e, de repente se ver segregado, excluído e impossibilitado de conviver com as pessoas com as quais sempre conviveu, ou mesmo de conhecer novas, simplesmente por ignorância e preconceito.
A esta altura, há pessoas que ainda acham que podem contrair HIV por contato indireto, por compartilhar talheres, pela saliva, por um beijo, enfim. São inúmeras as pessoas que encerram a possibilidade de conhecer e se relacionar com pessoas portadoras, pessoas que parecem fazer questão de tornar o HIV um verdadeiro estigma social. Há pesquisas extremamente sérias e relevantes, que já nos provaram não existir motivos para continuar tratando o HIV como um vírus, necessariamente, mortal, menos ainda para temer ou evitar as pessoas que porventura convivam com ele, é mais do que hora de derrubarmos preconceitos, a melhor forma de fazê-lo é com conhecimento.
Em primeiro lugar, é preciso saber que o vírus e a doença não se desenvolvem ao mesmo tempo ou em todas as pessoas; há indivíduos que contraem o HIV (vírus) mas nunca desenvolverão a doença (Aids). Apesar de ainda não existir cura definitiva, os portadores, a partir da administração dos já conhecidos coquetéis (conjunto de remédios para tratamento e controle do HIV), conseguem levar uma vida saudável com expectativas de vida que se aproximam as dos não portadores.
Como dito anteriormente, a transmissão não ocorre pelo ar, assentos, compartilhamento de talheres, salivas etc., mas sim, por meio de contato sanguíneo, pelo sêmen, por secreções vaginais, leite materno, durante a gestação - na atualidade, com o correto tratamento as chances são mínimas-, ou o parto. Dentre as formas de contágio, a mais alarmante é a sexual, não à toa o HIV ser reconhecido como uma Doença Sexualmente Transmissível - DST. Essa foi a cara da epidemia desde a década de 1980 e a camisinha ainda é o método mais seguro e disponível à prevenção. Entretanto, os outros meios de contágio não devem ser negligenciados, como o compartilhamento de seringas, geralmente associado ao uso de drogas, ou o sexo oral, que apresenta risco efetivo, apesar de muitos não fazerem questão do uso do preservativo durante essa prática. 
É importante ressaltar que a preservação deve ser constante, qualquer ato sexual deve ser realizado com uso de preservativo, independentemente de qualquer questão: alergias, falta de sensibilidade, incômodo etc., não devem ser utilizados como pretexto para o não o uso, especialmente por existir hoje no mercado uma infinidade de produtos em diversos modelos, opções e tamanhos para atender o maior número de necessidades possíveis. Prevenção é necessária sempre. Mas uma vez contaminad@, a calma deve ser estabelecida e a ajuda especializada procurada.
Outro ponto importantíssimo a ser tratado e, que poucas pessoas sabem, é que um individuo soropositivo sob tratamento e que possua carga viral controlada a níveis indetectáveis, oferece menor chance de transmissão em uma relação sexual desprotegida do que um individuo sorointerrogativo (aquele que não sabe sua sorologia).
Os estudos nesta área se multiplicam. Recentemente, postamos em nossa página no Facebook uma matéria do portal Universo AA, que versava sobre o tema, o Lado Bi também falou sobre. O estudo Partner demonstrou, com um universo de 800 casais formados por sorodiscordantes (hetero e homossexuais) - sendo que o soropositivo apresentava carga viral indetectável-, que não houve transmissão do vírus entre os casais que tinham a prática de transar sem camisinha. Estamos falando com base em dados e pesquisas de instituições sérias, não se tratam de opiniões arbitrárias. Estudos assim, tem por objetivo esclarecer as reais causas de transmissão e desmistificar tantas outras que a nada servem, senão estigmatizar e segregar ainda mais os portadores, entretanto estes dados não devem servir de fundamento para que as pessoas sintam-se seguras ou deixem de prevenir-se, pelo contrário, a prevenção ainda é a melhor forma de combate a Aids.
   O parágrafo acima traz uma informação pouco conhecida e até inesperada para muitos, dificilmente alguém diria ser mais seguro manter relações sexuais com um soropositivo, mas é isso mesmo, é importante ressaltar, que este quadro diz respeito aos portadores em tratamento que fazem uso de antirretrovirais, responsáveis por manter a carga viral a níveis indetectáveis. Esse tipo de informação precisa ser compartilhada e difundida, para que o preconceito e resistência ignorantes cessem e para que todas as pessoas portadoras possam viver com o respeito e a dignidade merecida, sem pré-julgamentos descabidos ou a segregação já tão vivida e conhecida por alguns grupos, tidos como minorias.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Enem

O Enem Feminista
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Algo que era até pouco tempo impensável aconteceu na vida real, tivemos uma prova de abrangência nacional, o Enem, contendo pautas sociais urgentes, envolvendo questões acerca de gênero, feminismo e violência contra a mulher, pautas que tantos setores lutam para que sejam inseridas fortemente na escola, esteve colocada na avaliação que há algum tempo pretende ser um mecanismo de uniformização do que se aprende nessa.
Vivemos um momento de grande tensão, há um insistente discurso afirmando uma crise econômica que se mostra contraditória e não muito palpável; há com certeza uma crise política representada no atual momento por um engessamento das decisões políticas federais e andamento de tais decisões, somado a isso percebemos uma onda conservadora e machista em voga na sociedade, refletida na câmara dos deputados e em alguns dos últimos projetos por ela apresentados.
Na tentativa de fazer frente a onda conservadora os movimentos e pessoas diretamente atingidos por ela tem reagido, entre eles, o LGBT (ressalvadas as devidas proporções) e o feminismo, pretendendo não ter suas vozes caladas nem seus direitos, conquistados com difíceis lutas, sufocados. É nesse contexto que o Enem, em sua última edição, trouxe a tona Simone de Beauvoir -um ícone para o feminismo-, e a "Persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira". Uma sociedade que ainda mata mulheres, as exclui, as vê em posição de inferioridade em relação aos homens, que as desqualifica, incapacita e as sufoca. Uma sociedade que violenta física, social e moralmente mulheres de todos os tipos, embora também haja uma seletividade no grau de tal exclusão e violência.
O Enem trouxe à luz a possibilidade de um debate muito mais amplo e profundo que transcende o alcance e objetivos da prova, os traços do ódio contra a mulher e a violência que ele gera está escancarado em nossa sociedade,  infelizmente. O exemplo mais claro no momento esteja, talvez, em boa parte dos julgamentos e ofensas proferidos a atual presidenta do país, muitos revoltados sem causa, pautam-se apenas no fato de Dilma ser mulher para desqualificá-la do cargo que ocupa, usando de xingamentos e ofensas misóginas, que passam para muitos, despercebidos e descolados de tal carga.
O Enem foi ainda mais além, ao abrir a possibilidade na mente de aproximadamente 8 milhões de jovens e adultos de se discutir gênero e identidade de gênero ao citar: "Ninguém nasce mulher; torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; [...]" trecho do livro O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir. Claro que a prova trazia apenas um trecho de uma obra bem mais profunda e complexa, mas é uma semente, uma iniciativa, sendo otimista, uma luz. Já apresentamos em outros momentos aqui no blog algumas discussões acerca de gênero e voltaremos a falar dele, pois é fundamental falar sobre a construção do gênero e das identidades, para falar de machismo, homofobia, preconceito, etc.
É importante olhar para a sociedade e constatar que de alguns lugares as vozes dos oprimidos conseguem ecoar e se fazer ouvir. O tema de redação do Enem, foi muito mais que um tema, foi muito mais que uma redação e muito maior que o Enem, foi o grito de milhares de mulheres que sofreram e ainda sofrem caladas, diariamente violentadas pelo machismo na figura do homem desconhecido e especialmente do conhecido; algumas vezes na figura da própria da mulher que nasce e cresce envolta por valores que a inferiorizam perante a sociedade.
A violência contra a mulher precisa parar, deve deixar de persistir na sociedade brasileira e em qualquer outra sociedade, igualdade e respeito é o que todos nós merecemos. E em meio há tantos absurdos e a violência dos últimos tempos, abrir o Enem e ler Simone, é no mínimo pra nos encher de esperança.

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Machista

                             Bicha Machista
Image courtesy of franky242 at FreeDigitalPhotos.net

Este poderia ser um texto sobre como os homossexuais são afetados diariamente pelo machismo e pela heteronormatividade que ainda rege nossa vida em sociedade, palavras e frases não faltariam para dizer o quanto um homossexual é prejudicado, ameaçado e lesado cotidianamente por esse mesmo machismo.
Qualquer pessoa teria um número considerável de exemplos passíveis de serem citados aqui: homens, mulheres, gays, lésbicas, etc., mas nosso foco se trata do  machismo no interior do cotidiano gay, aquele cometido pelos próprios homossexuais, o que apesar de causar certo espanto é algo não muito incomum
Qualquer pessoa que já frequentou salas de bate papo, sites de relacionamento ou os aplicativos de "caça", já se deparou, muito provavelmente, com o tipo de cara que preza pela discrição, anonimato e o submundo de tudo que permanece as escuras, as justificativas para isso são muitas e figuram desde os que apenas não querem expor sua individualidade até os que são casados. Outra característica bastante comum "no meio" reside na preferência pelos não afetados e discretos. A primeira vista pode parecer apenas uma questão de preferência e atração, mas em boa parte há certa dose de machismo permeando tais preferências.
Seria desnecessário repetir que vivemos em uma sociedade machista e nosso processo de socialização nos incentiva a também sermos, tema de uma outra postagem (http://alternnativag.blogspot.com.br/2014/07/a-construcao-do-preconceito-nao-e.html). Entretanto, podemos desenvolver outras formas de pensar, que não a que nos é imposta, porém boa parte das pessoas não consegue se desprender facilmente de tais valores tão bem arraigados e muitas vezes confundidos com o próprio indivíduo, claro que o machismo cresce conosco, somos influenciados e afetados por ele, cabendo a nós, em especial a alguns grupos, lutar contra.
Um dos grupos que fazemos menção no parágrafo acima é, ou ao menos  deveria ser, inquestionavelmente, os homossexuais e, embora esse combate seja muito mais comum, por questões óbvias, entre as lésbicas, parece não haver um paralelo direto e bem definido entre os gays, pelo contrário, é possível enxergar a sobrevivência e permanência de atitudes e posturas machistas, também nesse meio, um paradoxo, uma abominável contradição.
Muitos gays não conseguem sair do temeroso armário, vivem as sombras de uma mentira prestes a ser revelada a qualquer instante. Fazem dele -o armário- seu maior e mais seguro suporte e  refúgio e, por saberem que nunca estão em plena segurança a ameaça da descoberta os afugenta, fazendo-os recorrer a todas as armas possíveis e capazes de protegê-los neste casulo.  Em alguns casos, ou boa parte deles, ou em todos eles, a posição machista destes indivíduos é uma forma de fortalecer o armário, dar seguridade ao esconderijo.
Para além desta questão, há ainda uma mais problemática: Trata-se dos gays que desprezam e desdenham daqueles que possuem trejeitos tipicamente femininos, muitos se referem a eles com ar pejorativo, ar semelhante aquele dispensado pelos héteros em relação aos gays de forma geral. Porque caso estas pessoas não tenha se dado conta ainda, para a sociedade normatizada não existe o "gay machão" e o "gay bichinha", existe apenas o gay e se você no interior do grupo cria essa dualidade, significa a aceitação do mesmo preconceito e das mesmas raízes machistas desta sociedade. Há uma desconstrução total e interior ao movimento LGBT, que tanto luta, tanto grita e tanto morre na batalha contra o preconceito.
Tratar com desprezo ou desdém e mais preconceito qualquer individuo não torna ninguém mais ou menos gay e esse ato deliberado de criticar alguém pelas características constituintes de sua personalidade é preconceito e pior, revestido de machismo.
Para tornar a situação um pouco mais complexa outro ponto se coloca entre os homossexuais com total relação ao machismo presente entre nós: A questão de ser ativo ou passivo, representando o que consideramos ser uma das maiores contradição entre os gays, pois parece que a relação, também machista e heteronormativa, estabelecida entre homem e mulher é trazida e adaptada para as relações entre dois homens.
A pergunta, "o que você curte?" é comum e usada com frequência entre homens, o que já infere que as vezes a preferência na cama tem preponderância em muitos relacionamentos. Mas e todo o resto? Há uma preocupação em saber de cara o rótulo (comum também nas relações entre héteros, importante lembrar) que cada um carrega, ativo, passivo, versátil   Essa atitude revela mais uma faceta do machismo entre os gays.
Dificilmente se ouve alguém dizer declaradamente que é passivo e isso não é a toa. Ser passivo consciente ou inconscientemente traz um peso negativo, um peso que poucas pessoas conseguem explicar de onde vem, porque na verdade nem mesmo elas sabem qual a origem. O adjetivo versátil serviu muito bem a muitas pessoas que não tinham a coragem de assumir sua preferência, não à toa que em um texto intitulado "O vilão do Grindr" já referenciado aqui no blog (http://wwwbarbrazil.blogspot.com.br/2014/03/o-vilao-do-grindr.html), é mencionada a seguinte frase: "Todos os ativos são versáteis e todos os versáteis são passivos". Claro que se trata de uma  generalização que requer maior análise, mas há de fato uma realidade vivida que se aproxima desta citação.
Ser passivo e assumir isso em alguns casos não é simples, pois implica na cabeça de muitas pessoas certa inferioridade em relação ao outro. Como mencionado anteriormente, as relações homossexuais parecem ser constantemente adaptadas as relações heterossexuais, sendo assim, necessariamente as pessoas precisam identificar quem é o homem e a mulher da relação; quem manda e quem obedece. Aceita-se de forma rasa e conformada, mais uma vez todo o machismo também cometido contra a mulher.
Já é um absurdo esse tipo de relação entre pessoas de sexos opostos. Já é um absurdo o machismo ainda sobreviver, mas absurdo maior é tentar transpor e tornar iguais coisas que em essência são diferentes. E mais absurdo é ter que falar em desconstrução do machismo em um meio, cujo objetivo político-social deveria ser por natureza, desconstruí-lo. 

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Heternormatividade

A  Heteronormatividade Nossa de Cada Dia

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Nascemos e crescemos permeados por valores e socializações heterossexuais, nossa genitália define nosso gênero, orientação sexual, afinidades, preferências, estilos, etc., não é dada opção de discordância, mudança ou alternativas.
Indivíduos identificados como do sexo feminino ao nascer terão impositivamente de usar rosa e brincar de boneca, em oposição aqueles do sexo masculino que usarão azul, terão como brinquedos os carros, bolas, brincarão de luta ou outras atividades tidas como menos delicadas, assim, as situações são estabelecidas e assim, tem que ser seguido. No entanto as pessoas são muito mais complexas e diversas, de tal forma que esses valores heteronormativos não conseguem abarcá-las em sua complexidade. Meninos podem brincar de boneca e gostar de rosa, sem isso querer dizer que ele é ou será homossexual na vida adulta, mulheres podem preferir as bolas, a luta, carros e azul e isso não precisa necessariamente ter relação com as pessoas com as quais elas se relacionará: homens ou mulheres.
A definição de nossa sexualidade é permeada por uma série de fatores biológicos e socioculturais de uma maneira tão complexa e intrincada que ainda hoje é uma incógnita para psicólogos, médicos, biólogos e demais estudiosos do tema o momento em que alguém desenvolve a orientação sexual ou mesmo se ela é algo genético e portanto nasceria no instante em que nasce o individuo ou não.
Cada ser humano deveria ter o direito a liberdade de crescer distante dos determinismos e imposições que a sociedade ao longo de sua história instituiu como valores universais e imutáveis, entre eles a própria sexualidade e a identidade de gênero que deveriam ser elementos extremamente individuais e particulares dentro daquilo que constitui o humano, afinal de contas não cabe a ninguém opinar ou decidir a forma como cada um deve amar, se relacionar e se expressar no que diz respeito a sexualidade e ao gênero.
O resultado da crença cega em se condicionar o gênero de um indivíduo com base apenas em uma parte do corpo, a genitália, pode significar reduzir e asfixiar a expressão daquele, muito mais ampla que o pênis e a vagina, envolvendo questões bem mais profundas e complexas. É preciso entender que o gênero não é dado ou nato, se trata antes, de uma construção social transmitido na forma de valores, costumes, cultura, etc., portanto, esperar que o comportamento masculino ou feminino seja natural e estritamente ligado a uma parte do corpo é um problema. A constatação de que uma parte considerável das pessoas que nascem com vagina se identificam como sendo do sexo feminino, e as que nascem com pênis, por sua vez, se identificam como sendo do sexo masculino, não pode implicar em uma generalização absurda e errônea, pois sufoca uma série de pessoas que não estão abarcadas por esta maioria, mas devem ter assegurados os mesmos direitos e dignidade.
Os transgêneros existem, assim, como os transexuais e os não-binários  e não podem ter sua existência obscurecida ou asfixiada pelo preconceito, desconhecimento e ignorância. Precisam antes de mais nada ter assegurado o direito de expressar sua identidade da forma como se identificam, seja na forma da lei ou no convívio em sociedade, mas para isso uma mudança brusca e urgente na forma como as pessoas, em geral, encaram a sexualidade e o gênero  precisa ser realizada.
Não é pequeno o número de indivíduos que se veem em situações de profunda confusão ao não conseguir se encaixar nos padrões estabelecidos como "normais", o que gera margem para estas pessoas acreditarem portar algum tipo de problema ou desvio negativo, o resultado desse caminho em alguns casos é a negação da própria individualidade, negação motivada pelo medo ao preconceito, a exclusão, a reação da sociedade, etc.
É mais do que hora de abrirmos a mente e o pensamento, entender que a realidade é bem maior que o nosso quadrado e as formas de expressar aspectos individuais de nossa personalidade, devem ser individuais, nunca impostos pela sociedade representada na figura de quem quer que seja.

Referência
http://oglobo.globo.com/sociedade/tecnologia/nao-binarios-publicam-selfies-nas-redes-para-mostrar-que-significa-essa-identidade-de-genero-14383736

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

O Armário

Olá meus queridos, desta vez fiquei bastante tempo fora e não sei qual vai ser a frequência das minhas postagens por aqui. Pra quebrar o jejum, tem texto novo hoje sobre um assunto bem delicado: O Armário. Podem comentar com suas opiniões, experiências, etc., se quiserem mandar comentários por e-mail, sintam-se a vontade.

Boa Leitura!

Sobre sair do Armário
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São milhares os endereços e textos na internet que falam sobre aceitação, autoconfiança, preconceito, etc. Talvez este seja só mais um entre tantos e, ainda assim,  escreveremos por acreditar que nunca é demais falar sobre o processo de autoaceitação, de se assumir e  das consequências boas e ruins que isto pode trazer a vida de alguém.
Quem é homossexual vive ou viveu, sem dúvida, a sombra de se assumir ou não, este questionamento persegue segue a vida de alguns por pouco tempo, de outros por muito, já para alguns outros ele nunca deixará de existir, claro que essa não é uma das escolhas mais fáceis a se fazer e tem de ser muito bem ponderada antes da decisão ser, de fato, tomada.
Ninguém escolhe ser homossexual, bissexual, transexual, etc., mas as pessoas podem escolher, infelizmente acreditamos, passar a vida se escondendo atrás de máscaras e fantasias. Por não enxergar alternativa a não ser esta, optam pelo que acreditam ser o caminho menos árduo, motivados, boa parte das vezes,  pelo medo. O medo a reação da família, dos amigos, dos colegas no trabalho ou na escola, pelo medo a reação da sociedade. Pouco importa como a pessoa sente-se, desde que o que lhe é externo continue enxergando aquilo que a sociedade quer enxergar. A preocupação maior está em responder as expectativas que o mundo despejou em nossas vidas. Algumas  vezes este mundo é representado primeiramente pela figura da nossa mãe ou pai, um tio, uma tia, depois os amigos, talvez chefes, colegas. No fim, o próprio mundo.
Lendo algumas matérias e relatos fica a impressão de que dizer que somos homossexuais é uma das coisas mais fáceis que possamos fazer. Bem, a realidade não é assim. Também não é sempre que os discursos de "vai ficar tudo bem", são verdadeiros, é preciso estar preparado para o: "Talvez nem tudo fique bem". O fato é que nós vivenciamos realidades específicas e particulares, cabendo a cada um ponderar a hora e o momento mais oportuno. Não existe a idade certa, ser muito jovem ou muito velho, ser cedo ou tarde demais, nenhum desses discursos devem influenciar nossa atitude e vontade.
Cada individuo possui formas próprias de expressar seu sentimento em diversas situações e não é possível prever as reações e consequências de atitudes, mas isto é óbvio. Ao decidir contar aos pais, ou quem quer seja, sobre os aspectos de nossa sexualidade é possível que eles o abracem e digam que nada mudará sob qualquer circunstância, é possível que mesmo antes de você começar a falar eles o envolvam  em um abraço e digam que tudo ficará bem. Entretanto, não é impossível que eles fiquem irreconhecíveis, o reprimam, digam coisas horríveis sobre você e sua orientação/condição, portanto, a decisão de se assumir tem que estar intimamente ligada a um preparo psicológico para uma resposta boa ou não.
Todas as incertezas, inseguranças, medos, entre tantos outros sentimentos que nos habitam não se dissolvem com a fatídica conversa. Pode ser que tudo esteja apenas começando ali. Muitos perdem por completo a liberdade, passam a ser vigiados, alvos de desconfiança e às vezes tudo que você é, já fez  ou ainda fará perde a importância e deixam de ser méritos seus, porque a única coisa que as pessoas irão em enxergar é o fato de ser gay, lésbica, bissexual, enfim, e isso pode vir a  anular qualquer coisa "boa" (aos olhos da sociedade) que venha de você.
A impressão é que a partir do momento em que alguém  decide revelar as pessoas ser homossexual é preciso reconstruir novamente a personalidade perante a elas, ou ao menos relembrá-las da sua. O preconceito em nossa sociedade chega a um ponto tão extremado que somos julgados por uma condição profundamente individual que não atinge de forma nenhuma a vida de quem quer que seja. Afinal de contas, o que as pessoas têm a ver com quem eu vou ou deixo de me relacionar sentimental ou fisicamente?
Alguns têm a sensação de que o que é externo muda depois que nos assumimos. De fato, pouca coisa muda, isto para não dizer que pode ser que nada mude. As pessoas, em geral, continuarão preconceituosas, machistas, mesquinhas, etc. A principal mudança não será a concepção das pessoas sobre você, mas sim, sua próprias concepções sobre você mesmo e a forma pela qual  se enxerga o mundo
A mensagem mais importante a se deixar é que o momento certo para conversar sobre sua orientação/condição sexual é aquele definido por nós, seja ele qual for. O essencial é ter segurança e jamais permitir que a sociedade que nos cerca, suplante ou diminua nossa vida, esperando que realizemos seus sonhos e suas aspirações em detrimento dos nossos.
No instante em que arrancamos nossas máscaras e abandonamos o armário, uma série de preocupações deixam de existir, uma série de outras afloram, mas o mais importante é se abrir, lutar, argumentar e mostrar que não somos motivo de vergonha sob nenhum aspecto, pelo contrário. Só assim é que dia a dia ganharemos espaço e mostraremos aquilo que tanto se luta para cristalizar na mentalidade e cotidiano das pessoas, não há nada demais em ser gay. 

sábado, 21 de março de 2015

Opressão

Oi galera como estão vocês? Já faz um tempo que eu não posto nada, tenho tido muito tempo vago e com ele, contraditoriamente, muita preguiça, rs. Preciso organizar alguns textos para postá-los, aqui vai um deles, sobre como a opressão pode e nos cala dia após dia.


A Força da Opressão

A vida de nós homossexuais é uma vida de cessões, para alcançar a aceitação aceitamos ceder em diversos os pontos. Cedemos nossa liberdade, cedemos nossa integridade, cedemos nossas opiniões, nossos corpos, atitudes e até direitos, para garantir um mínimo de aceitação que seja, por parte daqueles que nos são importantes.
A sociedade nos faz pensar que somos aquilo de pior que alguém poderia desejar ser ou ter por perto, diante disso entramos em um caminho de auto destruição de nossas identidades individuais, aceitamos, em alguns casos, qualquer tipo de troca para que nossos, ou melhor o  nosso pecado possa ser sanado e visto com olhos menos acusadores e opressivos.
Há entre nós, os  que não se deixam abalar e estão sempre por cima afirmando suas crenças, opiniões e postura, mas há a meu ver uma maioria que não consegue se enxergar descolada de uma série de contratos morais, ou de uma hipócrita e falsa moral, deixando-se levar por discursos reducionistas e discriminatórios, contribuindo para sua reprodução viciosa e ampliada, cedendo sua voz e força a esse movimento de retrocesso.
O mais angustiante é que os oprimidos permanecem alimentando a máquina que os oprimem. Não são capazes de barrar o ciclo que os tornam minoria, segregados e discriminados, pelo contrário eles mesmos só ampliam o discurso e a máquina opressora, pois o movimento apenas permite que eles sejam ou partes integrantes de uma sociedade hipócrita ou o outro dela. Restando para estes um submundo de rejeição e renegação, não há força nem estímulo algum para um esforço contrário, assim, como em diversos setores da vida em sociedade, a força de opressão aumenta com o medo do oprimido e o medo do oprimido só aumenta com o discurso da opressão.

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sábado, 10 de janeiro de 2015

A esquerda parece contra Dilma?
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Passaram-se nove dias da posse da presidenta reeleita, Dilma Roussef. Ficou para trás uma das eleições mais acirradas desde a redemocratização, também ficou para trás uma das maiores mobilizações da esquerda em prol de uma candidato que as gerações mais novas já viu. Conseguimos, a candidata escolhida por nós foi eleita. Mas quem disse que era ela, de fato, a nossa opção?
O Brasil ao longo de sua história recente sofreu o golpe e o governo de uma longa e massacrante ditadura militar, após isso sucessivos governos democráticos pouco simpáticos a esquerda e ao povo desse país. Em 2003, um sonho de todos que um dia lutaram pela liberdade e democracia, subiu a rampa do Palácio do Planalto. Foi eleito um presidente de um partido até então reconhecido e tido como de esquerda, um ato que representou muito mais do que apenas a vitória da democracia, um ato que representou a vitória e a redenção de um povo que sofreu, lutou e morreu para que nós tivéssemos dias melhores, dias de liberdade.
Foram duas gestões do presidente Lula, gestões marcadas por corrupção, decepção e pelo abandono de bandeiras partidárias fundamentais, como a reforma agrária. Foram também gestões de ganhos sociais não menos consideráveis, porém muito aquém do que toda a esquerda mobilizada e cheia de esperança, aguardava ansiosamente há séculos.
A sequência da "esquerda" foi garantida, desta vez por uma mulher, ex-perseguida política durante a ditadura. Dilma representa muito mais do que Lula representou ao ser eleito, ela representa que, de fato, o passado sombrio e trevoso ficou, de uma vez por todas, para trás, representa que, de fato, este país ainda profundamente machista, caminha para um futuro de igualdade de gênero ao colocar uma mulher no mais alto cargo executivo existente aqui. Representa ainda que nós brasileiros, não estamos dispostos a abrir mão de nenhum ganho social, de nenhuma política de inserção do povo em todos os âmbitos da vida em sociedade. Representa que nunca permitiremos que os números da fome voltem ao patamar que eram e que lutaremos até o fim para não permitir que o Brasil esteja novamente no mapa da fome um dia.
A escolha pela eleição de nossa atual presidenta, rachou a esquerda, é preciso ser dito. Sabemos que há muito o PT esqueceu ou ao menos deixou de lado suas origens, muito pelos jogos políticos que se configuram e exigem posições pouco louváveis de nossos eleitos; muito também pelas mudanças de concepção e prioridade que todo ser humano passa.
Todos sabíamos que não seria um governo fácil e não será, basta lembrar que nossa câmara é uma das mais conservadoras desde a redemocratização. Me parece um tanto quanto curioso essa sequência de fatos que não acontecem desde a redemocratização, pois mostram um período de franca transição, não de retrocesso.
O período eleitoral foi marcado por intensas e calorosas discussões, os mais extremos desfizeram amizades e relacionamentos, alteram seus círculos de contato, pois não admitiram certas posicionamentos. Boa parte da esquerda nunca quis Dilma, isso porque sabem que seu governo e partido de fato não mais representam essa ideologia, mas se viram quase que obrigados a apoiá-la, para não permitir que um candidato posicionado mais a direita e apoiado por inúmeros conservadores e extremistas não alcançasse o cargo presidencial, portanto a escolha foi, antes de mais nada, um grito pelo não retrocesso, que inevitavelmente aconteceria.
Nossa presidenta após eleita, no entanto, tem tomado atitudes que a configurariam como uma candidata simpática a direita, pela postura política, como a recente nomeação de seu novo ministério. Nossa "direita" (boa parte das pessoas que criticam os governos de Dilma e Lula não necessariamente são da direita, antes são massa de manobra rasa de nossa mídia tendenciosa, por exemplo) contraditória e fraquíssima em argumentos continua fazendo critica pela critica, mesmo que a presidenta tome a postura que eles esperam. Já a esquerda, obviamente está revoltada e é assim mesmo que ela tem que ficar. Nós cobraremos o nosso voto, cobraremos o nosso governo, nossos direitos e nossa ideologia.
A eleição é só o inicio de um processo que dura quatro anos, eleger um candidato não significa se calar e aceitar seu governo sem indagação, muito pelo contrário. Nosso voto é caro, nosso voto é precioso, portanto o governo precisa valorizá-lo e fazer jus a cada voto recebido. Não nos calaremos diante das medidas impopulares, não nos calaremos diante do abandono da reforma agrária e jamais nos calaremos diante de um governo que abandona a esquerda sob qualquer hipótese. Elegemos sim, e agora mais que qualquer um temos a obrigação moral de criticar, cobrar e reivindicar. 

Não sumi!

Estou aqui!

E aí galera, tudo bem?
Ando meio sumido do blog, devido a correria dos últimos meses e também por não sentir algo que me motivasse a escrever. Vou tentar estar mais presente aqui, começando já!