quinta-feira, 12 de junho de 2014

A Copa

Por que não devia ter Copa?!


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 De uma forma ou de outra todos os brasileiros em algum momento da vida tem algum tipo de contato com o futebol de forma espontânea ou forçada. O futebol  está na TV, nos jornais, na internet, nas ruas, em casa, no trabalho, é comentado em restaurantes, cinemas, bares ou no taxi, resumindo não é possível fugir tanto do assunto, mesmo que se tente com garra.
Por uma série de motivos que não cabem ser levantados aqui muitas vezes o amor pelo esporte começa ainda na primeira infância motivado principalmente, e as vezes só pelo pai, especialmente quando se trata de filhos do sexo masculino, por que afinal de contas pra ser menino macho tem que gostar de bater bola, driblar e marcar gol. Desde o nascimento os pais lutam para que sua descendência siga também suas tendências, se compram camisas de times, bolas, adereços temáticos, entre outros. Poderíamos levantar uma série de fanatismos imbecis que afetam os filhos de pais com uma drástica falta de bom senso, mas também deixemos esse assunto para outra hora.
Muitos brasileiros e estrangeiros dizem que o futebol aqui é uma paixão, chegam afirmar que é ele um elemento de identidade nacional (outros mais corajosos diriam que é o único). Nosso futebol é um dos melhores do mundo, não necessariamente por que somos bom nisso, mas talvez e também por quase não haver incentivo e investimento em qualquer outro tipo de esporte, como acontece em outros países, mas isso também não é nossa questão central. O futebol permeia a vida de uma maçante parte dos brasileiros, isso é inquestionável, e desde que o esporte chegou aqui em 1895 trazido por Charles Miller ganhando a simpatia da elite para depois invadir as várzeas e cair no gosto popular ele se tornou um símbolo de representatividade brasileira, assim como o carnaval para muitos. Mas até que ponto uma paixão "nacional" deve servir de camuflagem, justificativa e legitimação para a cobertura de um evento que pode definitivamente trazer uma série de ônus para o país, o mesmo país de pessoas apaixonadas.
Milhões de brasileiros aguardavam ansiosos, torciam, oravam e para muitos a oração foi ouvida e o Brasil foi escolhido como a sede da Copa Mundial de Futebol da FIFA em 2014, as reações foram as mais variadas e extremas possíveis. Se de um lado havia uma parcela que gritava, chorava emocionada e custava a acreditar que o maior evento ligado a nossa única "paixão" comum iria acontecer no solo em que pisamos desde o nascimento, nosso chão, nosso Brasil. De outro uma massa que se fez ouvir gritava por menos Copa e mais saúde, educação, dignidade, justiça, segurança, coerência, fim da corrupção, menos miséria, afirmavam categoricamente que dentre todas as prioridades sociais brasileiras a Copa não deveria entrar em uma lista das 600 maiores, menos ainda ser considerada como prioridade social.
O Brasil e o brasileiro são conhecidos e reconhecidos, por ser um povo louco apaixonado por futebol, mas também por possuir memória deficiente, se habituar a qualquer situação adversa imposta sem questionar categoricamente, por ter sedimentado em sua mente que cedo ou tarde ou muito mais cedo ou muito mais tarde, mas sempre, tudo acaba em pizza. Sem sombra de dúvida foi assim que muitos encararam a posição de uma parcela considerável de brasileiros que se colocaram em uma posição contrária a realização do mundial de futebol em nosso território. Muito bem, as vozes não se calaram, as manifestações só aumentaram, a essa altura até podemos dizer de forma conformada "Vai ter Copa", mas podemos igualmente dizer "Vai ter manifestação, protesto e brasileiro questionando também".
Não tem sido poucos os artigos, matérias, textos, vídeos, entrevistas, campanhas, e tudo mais que o mundo da comunicação permite, que estão falando tanto do legado negativo quanto positivo que será deixado a nós pelos jogos, os apaixonados como qualquer apaixonado, parecem cegos, não querem ver a situação que estamos vivendo e o que está por vir. Se o amor é cego, a paixão é asfixiante, pois ela é capaz de fazer estragos ainda maiores. O Brasil não era definitivamente para ser o país da Copa. Porque se essa será a Copa das Copas, nós ainda estamos a anos luz de ser o país dos países.
É inegável que boa parte da população está condicionada, poderíamos até dizer acorrentada, a mídia que se faz legitimadora e que dessa vez, por motivos bem conhecidos para os mais esclarecidos, até quis mostrar que o Brasil não estava tão bem preparado assim para os jogos. Os telejornais de maior audiência mostram os atrasos, as deficiências, alguns abusos, entre outros "probleminhas", entretanto não por querer uma sociedade consciente, longe disso, mais por conveniência, mas ainda assim nos últimos dias tudo se converteu em alegria e acerto, tudo está pronto. O brasileiro, o Brasil conseguiu. A verdade é que estamos longe de ter conseguido qualquer coisa.
O montante total da verba pública gasta com a copa gira em torno de R$ 8.000.000.000,00, não se assuste com os zeros, infelizmente não conseguimos não acreditar que houve corrupção, lavagem de dinheiro e outros esquemas já conhecido de nossos dirigentes, políticos, empresários, etc. o que faria este valor multiplicar ou triplicar, além é claro de que mesmo este valor de 8 bi já possa estar superfaturado ou ter sido fruto de má emprego e ineficiência de gestão. Lembrando que este não é o montante total investido,  houve recursos vindos de outras fontes inclusive privadas, que faz o orçamento total ultrapassar os 28 bi de reais. Em pesquisas básicas encontramos algumas alternativas para esse dinheiro caso fosse aplicados em melhorias sociais de fato para o povo brasileiro, como a construção de 8 mil escolas; construção de aproximadamente 96.000 unidades básicas de saúde; contratar 2 mi de professore de ensino médio por ano; os R$ 7,1 bilhões investidos nos estádios poderiam ser usados para construir 2.842 km de rodovias, mais da metade da BR-116, maior do país, ou 1.421 km de ferrovias. Inúmeras outras melhorias poderiam ser feitas com todo o dinheiro, basta pesquisar para atestar o fato, mas isso os telejornais e mídias de massa não estão fazendo tanta questão de nos falar.
Ao receber o mundial de braços abertos, abrimos também nossos braços, bolsos, pernas e tudo mais passível de ser aberto a FIFA, a autoproclamada Organização sem Fins Lucrativos, o que soaria como piada, não fosse a revolta imediata. Esta organização reguladora máxima do futebol mundial com 209 associados (entre países e territórios) implanta um verdadeiro - usando um certo, mas talvez nem tanto assim, exagero de uma colega - estado de exceção nos países que recebem os jogos. Em 2010 na copa da África do Sul, a organização criou um tribunal próprio para julgar delitos cometidos durante a realização dos jogos, aqui no Brasil ela passou por cima das leis que proibiam a venda de bebidas alcoólicas no interior dos estádios, afinal não podemos esquecer que uma das patrocinadoras dos jogos é uma famosa marca cervejeira, ou seja, não importa a segurança ou o que vai acontecer com as pessoas que estarão nos estádios por consumir bebida alcoólica, mas ela irão consumir. E assim a FIFA passa por cima da soberania nacional, social e qualquer outra que possa existir, atropela as questões de segurança e as nossas particularidades em prol do seu próprio benefício. Nós somos invadidos, saqueados, roubados e no fim apenas devemos permanecer calados. A mesma instituição que se diz sem fins lucrativos e humilde tem uma reserva de 1 bi de dólares, além disso financiou parte do filme que conta a história do atual presidente da federação Joseph Blatter, algo em torno de 30 bi de dólares mais de 80% do orçamento do filme, algumas fontes dizem que o valor seria bem mais alto e a decisão de bancar boa parte do filme teria vindo do próprio Blatter e para muitos o lançamento as vésperas da copa não teria passado de uma estratégia que envolve o próprio presidente que tenta a reeleição pelo quinto mandato. Tirem sua conclusões. Não pára por aí,  a humilde instituição sem fins lucrativos , afirmou que iria distribuir em 2014 198,7 mi entre os associados, fruto de lucros obtidos, essa informação é veiculada pelo O Globo, contraditória essa FIFA. Não?  O mesmo presidente em uma entrevista foi perguntado sobre o que poderia ser feito para tornar o futebol feminino mais popular, ele sugeriu que as mulheres usassem shorts mais curtos. É meus caros olhem com que tipo de pessoa e instituição estamos lidando.
A FIFA definirá preços, leis, perímetros seguros, resumindo, a FIFA será nossa autoridade máxima durante um mês e ninguém parece se importar muito com isso, estamos sendo invadidos, pessoas estão perdendo suas casas, direito de ir e vir, de se mobilizar dentro de seus próprios bairros, mas tudo está bem, afinal estamos recebendo nossa paixão. O futebol voltou pra casa e os brasileiros, também poderão também voltar?
A excelentíssima presidenta do Brasil recentemente se pronunciou em rede nacional, pronunciamento que revoltou ainda mais os revoltados e não convenceu os indecisos. Os aeroportos não ficaram prontos, os estádios não estão prontos (a Arena Corinthians ainda tinha obras na área externa menos de quinze dias antes dos jogos), não importa a verba direcionada a educação nos últimos 8 anos, o que importa é que os 8 bi que financiaram obras para a Copa são frutos de impostos que deveriam ser direcionados as áreas de benefícios direto aos que pagaram, o povo, e não para financiar eventos como a Copa do Mundo. Quando a FIFA se for, levará também os lucros e nós ficaremos sim com o ônus. Os trabalhadores não atravessam a cidades em direção ao trabalho de avião, os pobres não terão acesso aos shows e eventos superfaturados que se realizarão nos estádios, só Deus (e talvez nem ele) sabe qual será o destino da Arena da Amazônia que sequer possui times de peso para jogar lá. Os empregos gerados pelas obras estão se findando. E definitivamente as obras de infra estrutura tem que ser prioridade nacional e não ser aceleradas porque um evento mundial irá invadir o território, como disse nossa presidenta. Obras desse tipo tem que beneficiar antes de mais nada, brasileiros.
Somos apaixonados, somos receptivos, choramos, cantamos, vibramos, somos um povo feliz, mas também queremos justiça, igualdade e humanidade. Dessa vez parece que o povo não se calará nem permanecerá conformado. Nós temos inúmeras prioridades e a Copa não é uma delas.
O Brasil vai ter copa sim, mas esperamos ter grandes mudanças, principalmente na mentalidade dos brasileiros também.


Esse Jornalista Explicou para os Americanos... por videosvirais

terça-feira, 10 de junho de 2014

A Culpa é das Estrelas ☆ ☆ ☆ ☆

A Culpa é das estrelas, O.K. ? Talvez!


Não foi fácil, para muitos, a longa espera pela estreia do aclamado romance "A Culpa é das Estrelas" de John Green. Não podemos negar que vivemos o ápice de uma certa "moda" literal, os brasileiros estão lendo mais, os jovens brasileiros estão lendo mais e isso é inquestionavelmente  benéfico, afinal a leitura proporciona bens e qualidades sem paralelo.
Os romances têm tido um sucesso especial, basta lembrar de obras que vêm ganhado seguidores assíduos, como "A Saga Crespúsculo", "A Trilogia Jogos Vorazes" e nosso real e infinito "A Culpa é das Estrelas", que está fazendo centenas de crianças, jovens, adultos e idosos se desmancharem em lágrimas pelas salas de cinemas no Brasil e no mundo,  e é sobre ele que vamos tecer alguns comentários.
O título do livro (para os que leram) é convidativo e curioso. Afinal que culpa tem as estrelas? É a primeira resposta que pretendemos encontrar, mas o desenrolar da história da adorável, triste e conformada Hazel Grace vai fazendo com que esqueçamos da resposta para focar nossa atenção apenas nela, a protagonista da narrativa. Somos envolvidos pelo drama, sofrimento, vida e certo sarcasmo com que nossa garota encara seu estado terminal, estado que ela mesma não trata de forma cruel, ou ao menos não transpareça. A única preocupação dela é com quem está a sua volta, não é a toa que se incomoda tanto com a dedicação quase que integral dos pais e o amor do apaixonado "Gus".
"Hazel é sincera sem ser cruel", é assim no livro e é assim na adaptação para os cinemas, a propósito lindo papel e ótimo tom que a atriz Shailene Woodley dá a personagem. Aproveitando para dar os crédito a quem merece, o elenco de forma geral cumpriu muito bem seu papel, embora boa parte dos atores não sejam familiares a maioria dos expectadores, a equipe como um todo fez um ótimo trabalho, um comentário especial vai para o ator Sam Trammell, pai de Hazel na trama, ele consegue dar uma humanidade sensivelmente tocante a personagem nas poucas aparições que faz. Transmite a verdade de um pai que  precisa conviver com a ideia de que pode perder a única filha a qualquer instante, toda a sensibilidade dele se concretiza e emociona na cena em que ele recebe a família no aeroporto. Apenas levanta o cartaz (Minha linda família e Gus) e chora, aquele momento é sem dúvida uma das cenas mais acertadas do longa. Ansel Elgort como Gus desempenha bem o papel e como outros já comentaram, não é uma impecável atuação, entretanto para o propósito e em relação ao roteiro pensado ele está muito bem. Não dá pra esquecer da simpática Lotte Verbeek, como a assistente do amargurado escritor Peter, e do amigo que não é capaz de voltar a enxergar um mundo sem o Gus, Isaac vivido por Nat Woolff, enfim um elenco em sintonia, numa história que deu certo.
Durante a última semana a internet foi bombardeada com uma série de críticas, em sua maior parte positiva, a adaptação para as telona do Best Seller "A Culpa é das Estrelas", passei três dias lendo verdadeiros tratados (exagero meu rs) de elogios a atuação, montagem e adaptação, e embora já soubesse que não encontraria nada muito além do que já havia lido no livro, confesso que as repetidas leituras incutiram uma expectativa maior em mim, comecei a acreditar que poderia encontrar algo além no longa, fosse na mudança de algum rumo da história origial, fosse pela atuação arrebatadora de alguns dos personagens (especialmente os protagonistas), resultado, entrei na sala de cinema com uma expectativa beirando as nuvens e não vou negar: claro que me decepcionei, e vou tentar dizer o por quê disso.
A sala da qual fiz parte estava vazia, o que não significou ausência de choros sufocados e tímidos soluços. Penso, reflito, penso novamente, e não consigo encontrar uma resposta definitiva do motido de essa história em particular ter mexido de uma forma tão tocante com tantas pessoas. De um lado, claro, nós não estamos e talvez nunca estaremos prontos para lidar com a morte e isso é difícil em qualquer idade, porém quando falamos em morte de pessoas de 13, 14, 15 ou 19 anos de idade as coisas se tornam ainda mais difíceis, porque em tese pessoas desta idade deveriam estar se preparando para começar a vida e não para morrer. Se levamos em conta que a salas de cinema estão sendo lotada especialmente por adolescentes que beiram a idade de Hazel e Gus, a coisa fica ainda mais sensível, porque todos no momento se colocam no lugar da personagem. Outr o ponto que causa comoção é, obviamente, o amor entre os dois protagonistas e a forma como eles vão desenvolvendo os laços (muito mais precisos e detalhadados no livro) até o momento em que o pequeno infinito de Hazel e Gus se finda.
A Culpa é das Estrelas não traz grandes novidades nem um espetáculo a parte no que diz respeito a adaptação e atuação. Por ser bastante fiel (mas não completamente) ao livro, quem o leu não encontra nenhuma novidade nem novos motivos para se emocionar a não ser os já existentes na leitura. Em muito a história traz velhos e infalíveis clichês ( não é necessariamente uma crítica), com exceção do final. Se trata do romance, do amor adolescente entre a garota um tanto quanto tímida e pouco desenvolta socialmente (isso fica mais claro no livro) com o cara popular, bonito e atraente, mas que ao contrário de todos os outros romances teens e pelo estado das coisas, não acontece no corredor, das nossas já conhecidas, escolas ou universidades americanas, mas no grupo de apoio a jovens com câncer.
Há algumas coisas que poderiam ter sido melhores trabalhadas no filme, como o O.K. de Hazel e Gus; o pequeno infinito tão significativo na história dos dois que só vai ganhar algum destque na última parte da trama;  o próprio envolvimento dos protagonistas que no livro não é tão óbvio, ao menos no início, o amor singelo e profundo que iria surgir entre os dois (não que isso não fosse previsto pelos leitores), entre outros detalhes.
Nas linhas acima eu coloco que a adaptação cinematográfica não é completamente fiel a obra literária, embora eu pudesse dizer que sim, caso não fosse por dois atos que foram cortados do filme, que são:

 - O momento em que Gus discute com a mãe sobre a viagem para a Holanda na ocasião em que eles descobrem que o câncer reapareceu e ela tenta o convencer a não viajar.                  
-  Depois a cena em que Gus conta para Hazel da ex-namorada que tinha um tumor na cabeça e foi perdendo aos poucos as capacidades até falecer. Essas cenas que estão no livro são, na minha opinião, bastante importantes para a história, mas ficaram de fora da sequencia.

A história é bonita, o roteiro bem construído, os personagens bem estruturados, concordo que o resultado foi ótimo e que a sintonia final do filme dá o tom certo a adaptação, mas não consigo ver muita coisa além disso, talvez seja pela superexpectativa que eu criei (ou foi criada em mim), talvez por eu ser um ser humano frio e calculista (brincadeira), mas o fato é que saber de quem é a Culpa de todo o destino cruel que nos é entregue não me fez cair aos prantos. Hazel é doce, sarcástica, coformada e as vezes adolescente, Gus é bem comum, não alcança o que tanto desejou em vida, a permanência na lembrança, no fim são apenas adolescentes sem nada de tão especial e talvez seja por isso que o filme faz tanto sucesso. O fato de os personagens nem serem tão especiais assim é que os torna especiais.
A Culpa pode ser das estrelas sim! E eu recomendo que você descubra o por que assistindo e claro lendo o livro.