quarta-feira, 13 de abril de 2016

Relacionamento II

Relação sem padronização

Image courtesy of David Castillo Dominici at FreeDigitalPhotos.net

Ao longo do tempo, a sociedade parece ter desenvolvido a necessidade de criar estereótipos a todos nós, cada indivíduo tem de ser devidamente colocado dentro de uma caixa especificamente rotulada, isso começa antes mesmo de  nascermos: o rótulo mulher/homem nos é entregue antes de nossa constituição social. 
A não capacidade de enquadrar e identificar cada pessoa ou situação parece gerar um profundo incômodo e até revolta em determinados seres humanos e grupos.
A necessidade social de estereotipar e rotular tudo que é possível causa um verdadeiro imbróglio quando falamos em relacionamentos, especialmente ao se considerar as inúmeras possibilidades de relacionamentos que a cada dia ganham força, evidência e adeptxs. A história humana criou uma série de regras e necessidades coletivas, entre elas está o envolvimento afetivo e obrigatório por pessoas, e pessoas de sexo oposto, porém, a complexidade humana é infinitamente maior do que as regras reducionistas ditadas pela sociedade; a forma de nos relacionarmos não deve ser pautada por receitas conservadoras e falidas,  isso já foi assunto em outro momento aqui, inclusive.
Da mesma forma que o processo de socialização, desde muito cedo, nos mostra que precisamos obrigatoriamente ser pessoas cisexuais, heterossexuais, monogâmicas e seguir os modelos e padrões impostos ao longo da vida, também nos diz a maneira como devemos nos relacionar afetivamente com o outro. Mas e quando há um questionamento deste modelo e destas regras? E quando o individuo não quer se relacionar de uma maneira 'convencional'?
Sempre que lidamos com situações que pressupõem um questionamento dos padrões vigentes e aceitos como "normais", precisamos estar dispostos ao conflito, à discussão e à luta, pois ir contra uma corrente estabelecida há milênios, não costuma ser algo de muita facilidade. O texto passado falava sobre relacionamentos gays e a não categorização do envolvimento afetivo, especialmente por ser impossível estabelecer regras ou receitas para tratar de pessoas essencialmente diferentes, em situações totalmente variadas; pois bem, é preciso mais que nunca falar sobre as possibilidades de se relacionar e questionar o modelo tradicional monogâmico e heterossexual. Não se trata, no entanto, de uma tentativa de desconstruir ou invalidar essa ou aquela forma de relacionamento, pelo contrário, apenas um intento de mostrar a diversidade possível nas maneiras de se relacionar e garantir o respeito às decisões individuais.
Muito se fala sobre a instituição do relacionamento monogâmico como uma imposição estranha ao humano, que é por natureza, na visão de alguns, um ser de relacionamentos múltiplos, sendo muito mais espontânea a possibilidade de não se fechar de forma imposta. Ora, não é difícil encontrar pela internet ou mesmo em nosso convívio, estatísticas, dados e relatos de relações fechadas em teoria, cujos envolvidos mantêm casos extraconjugais. Será que há certa dose de hipocrisia?
A instituição dos relacionamentos prevê inúmeras regras, preceitos, valores e uma moral conservadora. Ao longo da vida, aprendemos a sonhar, desejar e estabelecer o relacionamento com o outro: o namoro, o noivado ou o casamento, sem nunca questionarmos o porquê da construção, da forma e mesmo o porquê de necessariamente termos que viver essa aspiração social. Podemos não querer um namoro, um noivado ou mesmo o casamento em nossa individualidade, contudo, a sociedade não aceita sob hipótese alguma tal opção. Então, como falar em relacionamento aberto, por exemplo, nesse contexto conservador?
O relacionamento aberto, o amor livre, o polimor, dentre tantas outras possibilidades, vem a cada dia ganhando espaço e ressonância entre pessoas, que desde algum momento passaram a questionar as relações tradicionais, encarando-as como problemáticas, hipócritas e inviáveis; não a relação em si, mas sim o discurso que as constrói e as cristaliza.
A cada dia que passa, caminhamos para a construção de uma sociedade que se pautará pela diversidade, na qual não deverá haver outro caminho, senão aquele do diálogo, debate, reflexão e respeito; ao propor discussões como essa não pretendemos invalidar ou deslegitimar as variadas formas de relacionamentos possíveis, abertos ou monogâmicos, pelo contrário, trata-se na verdade de tentativas de evidenciar a diversidade, a diferença, para que com o conhecimento, cresça o respeito; para que as pessoas possam saber que ao contrário do que elas aprenderam, há inúmeras formas de se relacionar, de apaixonar-se e de se envolver. 
O afeto é por natureza livre, não pode haver medida ou regras com o objetivo de padronizá-lo ou categorizá-lo.