Relação sem padronização
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Ao longo do tempo, a sociedade parece ter
desenvolvido a necessidade de criar estereótipos a todos nós, cada indivíduo
tem de ser devidamente colocado dentro de uma caixa especificamente rotulada,
isso começa antes mesmo de nascermos: o
rótulo mulher/homem nos é entregue antes de nossa constituição social.
A não capacidade de enquadrar e identificar cada pessoa ou situação parece gerar um profundo incômodo e até revolta em determinados seres humanos e grupos.
A não capacidade de enquadrar e identificar cada pessoa ou situação parece gerar um profundo incômodo e até revolta em determinados seres humanos e grupos.
A necessidade social de estereotipar e
rotular tudo que é possível causa um verdadeiro imbróglio quando falamos em
relacionamentos, especialmente ao se considerar as inúmeras possibilidades de
relacionamentos que a cada dia ganham força, evidência e adeptxs. A história
humana criou uma série de regras e necessidades coletivas, entre elas está o
envolvimento afetivo e obrigatório por pessoas, e pessoas de sexo oposto,
porém, a complexidade humana é infinitamente maior do que as regras
reducionistas ditadas pela sociedade; a forma de nos relacionarmos não deve
ser pautada por receitas conservadoras e falidas, isso já foi assunto em outro momento aqui, inclusive.
Da mesma forma que o processo de
socialização, desde muito cedo, nos mostra que precisamos obrigatoriamente ser
pessoas cisexuais, heterossexuais, monogâmicas e seguir os modelos e padrões impostos ao longo
da vida, também nos diz a maneira como devemos nos relacionar
afetivamente com o outro. Mas e quando há um questionamento deste modelo e destas regras? E quando o individuo não quer se relacionar de uma maneira 'convencional'?
Sempre que lidamos com situações que
pressupõem um questionamento dos padrões vigentes e aceitos como "normais",
precisamos estar dispostos ao conflito, à discussão e à luta, pois ir contra
uma corrente estabelecida há milênios, não costuma ser algo de muita
facilidade. O texto passado falava sobre relacionamentos gays e a não categorização do envolvimento afetivo,
especialmente por ser impossível estabelecer regras ou receitas para tratar de
pessoas essencialmente diferentes, em situações totalmente variadas; pois bem,
é preciso mais que nunca falar sobre as possibilidades de se relacionar e questionar o modelo tradicional monogâmico e heterossexual. Não se trata, no
entanto, de uma tentativa de desconstruir ou invalidar essa ou aquela forma de relacionamento, pelo
contrário, apenas um intento de mostrar a diversidade possível nas maneiras de
se relacionar e garantir o respeito às decisões individuais.
Muito se fala sobre a instituição do
relacionamento monogâmico como uma imposição estranha ao humano, que é por
natureza, na visão de alguns, um ser de relacionamentos múltiplos, sendo muito
mais espontânea a possibilidade de não se fechar de forma imposta. Ora, não é
difícil encontrar pela internet ou mesmo em nosso convívio, estatísticas, dados
e relatos de relações fechadas em teoria, cujos envolvidos mantêm casos
extraconjugais. Será que há certa dose de hipocrisia?
A instituição dos relacionamentos prevê
inúmeras regras, preceitos, valores e uma moral conservadora. Ao longo da vida, aprendemos a sonhar, desejar e estabelecer o relacionamento com o outro: o
namoro, o noivado ou o casamento, sem nunca questionarmos o porquê da construção, da forma e mesmo o porquê de necessariamente termos que viver essa aspiração
social. Podemos não querer um namoro, um noivado ou mesmo o casamento em nossa
individualidade, contudo, a sociedade não aceita sob hipótese alguma tal opção.
Então, como falar em relacionamento aberto, por exemplo, nesse contexto conservador?
O relacionamento aberto, o amor livre, o polimor, dentre tantas outras possibilidades, vem a cada dia
ganhando espaço e ressonância entre pessoas, que desde algum momento passaram a
questionar as relações tradicionais, encarando-as como problemáticas, hipócritas
e inviáveis; não a relação em si, mas sim o discurso que as constrói e as cristaliza.
A cada dia que passa, caminhamos para a construção de
uma sociedade que se pautará pela diversidade, na qual não deverá haver outro caminho, senão aquele do diálogo, debate, reflexão e respeito; ao propor
discussões como essa não pretendemos invalidar ou deslegitimar as variadas
formas de relacionamentos possíveis, abertos ou monogâmicos, pelo contrário,
trata-se na verdade de tentativas de evidenciar a diversidade, a diferença, para
que com o conhecimento, cresça o respeito; para que as pessoas
possam saber que ao contrário do que elas aprenderam, há inúmeras formas de se
relacionar, de apaixonar-se e de se envolver.
O afeto é por natureza livre, não pode haver medida ou regras com o objetivo de padronizá-lo ou categorizá-lo.
O afeto é por natureza livre, não pode haver medida ou regras com o objetivo de padronizá-lo ou categorizá-lo.
Realmente,as possibilidades de como se relacionar são inúmeras, no entanto como cada um funciona de uma forma diferente é importante deixar claro neste discurso que talvez o mais importante seja o que leva aquele sujeito escolher determinado tipo de relação. No caso do do poliamor, será que terá clareza no ponto onde passará do limite do outro? Existirá um acordo de respeitar o outro? Ou será que o sujeito quer uma liberdade que se relaciona apenas com suas vontades? Até que ponto o comportamento sexual pode levar a desfechos negativos? Talvez seja mais importante refletir sobre como estar em qualquer tipo de relação, não pensando apenas na própria satisfação mas sim na premissa básica dos relacionamentos, na empatia.
ResponderExcluirMuito bem pontuado! Empatia é condição essencial para um relacionamento, caso contrário o egoísmo retira qualquer possibilidade de existir uma situação saudável e benéfica aos envolvidos.
ExcluirNa postagem anterior falamos um pouco mais desta questão, a ideia neste texto é justamente evidenciar a diversidade de envolvimentos afetivos possíveis entre as pessoas e, de como cabe a todos nós respeitar o outro, suas decisões e modos de vida, sem julgamentos ou imposição de verdades universais e conservadoras.
É difícil saber ou imaginar o que se passa pela cabeça do outro, se a consciência acerca de decisão existe ou não, mas ainda assim, é primordial que cada indivíduo tenha a liberdade de caminhar de acordo com suas escolhas de vida, seja em uma relação aberta, monogâmica, ou mesmo escolhendo não estar em uma relação, o que é plenamente possível. Cabe a cada um equacionar e aprender com os ensinamentos e consequências de cada caminho percorrido.
uau, que texto legal, uma analise muito atual e elaborada sobre relacionamentos... muito bom mesmo... eu sou mais caretinha, do tipo relacionamento monogamico... mas acho muito valido quem questiona e pensa em novos modelos... parabens!
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