Você
já ouviu alguém dizer que relacionamentos gays não duram? Que homens são
promíscuos e sexualizados demais para viverem relacionamentos estáveis, monogâmicos ou não? Há diversos discursos dentro e fora do meio LGBT tentando
sustentar e reproduzir tal visão. Vamos falar sobre isso? Será que
relacionamentos gays são, naturalmente, inviáveis?
Os Instáveis Relacionamentos Gays
Há uma ideia, equivocada a nosso ver, que
rodeia o imaginário de diversas pessoas,
inclusive homossexuais: trata-se de um constatação duvidosa dizendo respeito
aos relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo, especialmente entre homens, a
de que esse tipo de relação não tem futuro e de que está, inevitavelmente, fadada
ao fracasso.
Em busca simples pelo Google é possível
encontrar uma série de relatos, artigos, listas, dentre outros materiais
tratando sobre o tema, o Lado Bi traduziu
um artigo do tumblr da revista Revolutionary
que lista o erros mais comuns nos relacionamentos gays; o ChilliWiki publicou uma matéria em que expõe 05 razões que explicam o porquê de os
relacionamentos gays não durarem; caso procuremos um pouco mais, também encontraremos
vídeos em canais no Youtube tratando
do tema, posicionando-se favorável ou contrariamente a tal "constatação".
A questão da duração de relacionamentos
precisa ser drasticamente problematizada. A nós, parece fazer pouco sentido,
primeiramente, debater o quanto um relacionamento deve durar para ser
considerado estável, ou mesmo utilizar um tipo de relacionamento como parâmetro,
no caso heterossexual, para padronizar ou balizar os outros tipos de relacionamentos possíveis, na
verdade fazer isso é uma forma de reproduzir ainda mais preconceito.
Muito se fala, em diversos meios, que os
homens gays não conseguem se firmar em relacionamentos por
diversas características peculiares do sexo biológico masculino,
características essas bastante problemáticas. Fala-se que homens tem uma
quantidade explosiva de hormônios que os fazem ter um desejo sexual
"astronomicamente" maior em relação às mulheres; que homens não
conseguem manter-se fiéis, por mais que gostem verdadeiramente de suas/seus parceirxs;
que gays são demasiadamente promíscuos e hipersexualizados para relacionamentos
longos ou monogâmicos, não que a monogamia seja o modelo ideal ou necessário, longe disso; que a disponibilidade e facilidade de encontros casuais
entre homens superam a possibilidade de um relacionamento estável; que os
modelos estruturados que prendem heterossexuais em relacionamentos, não existem
para os gays, dentre tantas outras justificativas e argumentações problemáticas, no mínimo, que já ouvimos ou
lemos por aí.
Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que
relacionamentos são um projeto que envolve duas ou mais pessoas e que
dificilmente haverá receitas ou modelos de sucesso a serem seguidos, pois cada
individuo responde de maneira diferente na circunstância de um envolvimento
afetivo, então, esqueça tudo que você aprendeu nos contos de fada, na novela
das oito que agora é das nove, mas começa nove e meia quase dez, o que leu nos
testes das revistas "teen's", que ensinavam como agarrar o "bofe" em
cinco passos infalíveis, ou detectavam qual integrante do "Backstreet Boys" e agora do "One Direction" mais combinava/combina
com você.
Estar em um relacionamento envolve uma série
de variáveis e disposições de ambas as partes envolvidas, um bom sinônimo para
relacionamento é a cessão, pois antes do amor, companheirismo, paciência,
respeito e empatia, os envolvidos deverão estar dispostos a cederem em algumas
circunstâncias, senão, os pontos de discórdia tornar-se-ão maiores que qualquer
coisa boa que exista.
A nossa sociedade, heterormativa, instituiu ao
longo de séculos o ideal de relacionamento e constituiu-se sob o preceito da
indestrutibilidade da família, a qualquer preço. Você que nos lê, provavelmente
conhece ou já ficou sabendo de determinado casal heterossexual, que já não tem
uma vida, efetivamente, conjugal, mas que por diversas circunstâncias não
conseguem colocar fim a uma relação acabada há tempos; ou mesmo de
casais que traem, muitas vezes, de forma clara; dizer que um
relacionamento desse tipo é duradouro ou usá-lo como forma de comparação é,
indiscutivelmente, um equívoco.
Falar que relacionamentos gays não duram ou
que homens gays são promíscuos e hipersexualizados (O que é promiscuidade mesmo?), é o mesmo que dizer que todas
as relações heterossexuais são perfeitas, duradouras e baseadas no respeito
mútuo, o que está bem longe de ser verdade. É preciso o entendimento de que o
ser humano engana, ludibria, desrespeita, mas que também ama, espera e pode ser
fiel, sem com isso generalizar a humanidade, pois já sabemos, ou ao menos
deveríamos saber, que generalizações precisam ser usadas com grande cautela.
Há
pesquisas e artigos que desmistificam a crença popular de que os homens têm um
desejo sexual superior ao das mulheres. A grande verdade é que, por séculos, as mulheres foram e ainda são reprimidas
sexualmente, elas não podem falar, desejar ou pensar em sexo. O sexo para as
mulheres está amplamente relacionado a algo sujo e errado, tanto que os
xingamentos destinados a elas, na maioria das vezes, estão ligados ao sexo; além disso, mulheres passam pela menopausa, momento de mudanças hormonais e de
queda brusca do apetite sexual, fase não vivida pelo homem. Esses fatores,
dentre tantos outros servem de argumento a tese do maior desejo por parte dos
homens, que também serve para justificar o fato de que eles precisam buscar
satisfação na rua, já que têm necessidades físicas e hormonais astronômicas.
Perceba tratar-se de construções sociais,
poucas das quais têm verdadeiro respaldo científico, têm o mesmo fundamento e
objetivo do tipo de construção que vai dizer que mulheres amadurecem mais cedo
que os homens (sem colocar em discussão as constatações biológicas desse fato), fornecendo a justificativa ética e moral para que homens mais
velhos possam relacionar-se com mulheres mais jovens, ou mesmo muito mais jovens
sem as condenações que ocorrem, por exemplo, quando é a mulher que se envolve com um rapaz mais novo.
São questões amplas que perpassam qualquer tipo de
relacionamento, os dados que podem dizer sobre a durabilidade dos casamentos
entre pessoas do mesmo sexo ainda são escassos, talvez no futuro tenhamos
alguma medida. O que precisamos entender é que as pessoas estão tornando-se
mais conscientes e coerentes, estão menos dispostas a sofrer em relações
abusivas e mortas na prática. Não devemos confundir liberdade e direito a
seguir os caminhos que acreditamos ser melhores, com instabilidade ou falta de
capacidade em manter-se em um relacionamento, aberto ou fechado. Mulheres e homens podem ter
apetite sexuais variados, tal característica não está, necessariamente, ligada
ao sexo biológico.
Ao refletir, percebemos o quanto estas
afirmações e pensamentos são machistas, o homem privilegia-se a todo momento,
ele pode estar com quem quiser dentro e fora de seu relacionamento, caso ele
esteja em um. Ao longo dos anos o discurso que sustenta algumas crenças que,
por vezes, parecem tornar-se verdades inquestionáveis, são fruto justamente do
motor que pretende a todo momento subjugar determinadas pessoas na sociedade.
Precisamos falar e fazer reflexões mais
profundas sobre a homossexualidade, a bissexualidade, sobre os relacionamentos e sair do terreno do senso
comum ou da mania em tomar padrões heterossexuais como tábua rasa de
comparação. Relacionamentos gays não duram menos ou mais. Quando o assunto é
relacionamento e sua durabilidade, precisamos ter certeza de apenas uma coisa: Um
Relacionamento, seja ele qual for, deve durar o tempo que tiver de durar,
enquanto for bom e saudável para os envolvidos.
Acredito que homens (machos em geral) biologicamente são mais sexualizados, sim. Mas isso não quer dizer que não possam ter relacionamentos duráveis e amorosos. O seu tesão intenso não exclui necessariamente o amor. Pelo contrário, pode até criar amores mais intensos. Mas é preciso que o cara queira e tenha abertura para viver uma relação monogâmica em meio a tanta oferta. Muitos têm esse objetivo. Preconceituoso é afirmar que não é possível tal relação entre homens.
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