De uma forma ou de outra todos os brasileiros
em algum momento da vida tem algum tipo de contato com o futebol de forma
espontânea ou forçada. O futebol está na TV, nos jornais, na
internet, nas ruas, em casa, no trabalho, é comentado em restaurantes, cinemas,
bares ou no taxi, resumindo não é possível fugir tanto do assunto, mesmo que se
tente com garra.
Por uma série de motivos que não cabem ser
levantados aqui muitas vezes o amor pelo esporte começa ainda na primeira
infância motivado principalmente, e as vezes só pelo pai, especialmente quando
se trata de filhos do sexo masculino, por que afinal de contas pra ser menino
macho tem que gostar de bater bola, driblar e marcar gol. Desde o nascimento os
pais lutam para que sua descendência siga também suas tendências, se compram
camisas de times, bolas, adereços temáticos, entre outros. Poderíamos levantar
uma série de fanatismos imbecis que afetam os filhos de pais com uma drástica
falta de bom senso, mas também deixemos esse assunto para outra hora.
Muitos brasileiros e estrangeiros dizem que o
futebol aqui é uma paixão, chegam afirmar que é ele um elemento de identidade
nacional (outros mais corajosos diriam que é o único). Nosso futebol é um dos
melhores do mundo, não necessariamente por que somos bom nisso, mas talvez e
também por quase não haver incentivo e investimento em qualquer outro tipo de
esporte, como acontece em outros países, mas isso também não é nossa questão
central. O futebol permeia a vida de uma maçante parte dos brasileiros, isso é
inquestionável, e desde que o esporte chegou aqui em 1895 trazido por Charles
Miller ganhando a simpatia da elite para depois invadir as várzeas e cair no
gosto popular ele se tornou um símbolo de representatividade brasileira, assim
como o carnaval para muitos. Mas até que ponto uma paixão "nacional"
deve servir de camuflagem, justificativa e legitimação para a cobertura de um
evento que pode definitivamente trazer uma série de ônus para o país, o mesmo
país de pessoas apaixonadas.
Milhões de brasileiros aguardavam ansiosos,
torciam, oravam e para muitos a oração foi ouvida e o Brasil foi escolhido como
a sede da Copa Mundial de Futebol da FIFA em 2014, as reações foram as mais
variadas e extremas possíveis. Se de um lado havia uma parcela que gritava,
chorava emocionada e custava a acreditar que o maior evento ligado a nossa
única "paixão" comum iria acontecer no solo em que pisamos desde o
nascimento, nosso chão, nosso Brasil. De outro uma massa que se fez ouvir
gritava por menos Copa e mais saúde, educação, dignidade, justiça, segurança,
coerência, fim da corrupção, menos miséria, afirmavam categoricamente que
dentre todas as prioridades sociais brasileiras a Copa não deveria entrar em
uma lista das 600 maiores, menos ainda ser considerada como prioridade social.
O Brasil e o brasileiro são conhecidos e
reconhecidos, por ser um povo louco apaixonado por futebol, mas também por
possuir memória deficiente, se habituar a qualquer situação adversa imposta sem
questionar categoricamente, por ter sedimentado em sua mente que cedo ou tarde
ou muito mais cedo ou muito mais tarde, mas sempre, tudo acaba em pizza. Sem sombra
de dúvida foi assim que muitos encararam a posição de uma parcela considerável
de brasileiros que se colocaram em uma posição contrária a realização do
mundial de futebol em nosso território. Muito bem, as vozes não se calaram, as
manifestações só aumentaram, a essa altura até podemos dizer de forma
conformada "Vai ter Copa", mas podemos igualmente dizer "Vai ter
manifestação, protesto e brasileiro questionando também".
Não tem sido poucos os artigos, matérias,
textos, vídeos, entrevistas, campanhas, e tudo mais que o mundo da comunicação
permite, que estão falando tanto do legado negativo quanto positivo que será
deixado a nós pelos jogos, os apaixonados como qualquer apaixonado, parecem
cegos, não querem ver a situação que estamos vivendo e o que está por vir. Se o
amor é cego, a paixão é asfixiante, pois ela é capaz de fazer estragos ainda
maiores. O Brasil não era definitivamente para ser o país da Copa. Porque se
essa será a Copa das Copas, nós ainda estamos a anos luz de ser o país dos
países.
É inegável que boa parte da população está
condicionada, poderíamos até dizer acorrentada, a mídia que se faz legitimadora
e que dessa vez, por motivos bem conhecidos para os mais esclarecidos, até quis
mostrar que o Brasil não estava tão bem preparado assim para os jogos. Os
telejornais de maior audiência mostram os atrasos, as deficiências, alguns
abusos, entre outros "probleminhas", entretanto não por querer uma
sociedade consciente, longe disso, mais por conveniência, mas ainda assim nos
últimos dias tudo se converteu em alegria e acerto, tudo está pronto. O
brasileiro, o Brasil conseguiu. A verdade é que estamos longe de ter conseguido
qualquer coisa.
O montante total da verba pública gasta com a
copa gira em torno de R$ 8.000.000.000,00, não se assuste com os zeros,
infelizmente não conseguimos não acreditar que houve corrupção, lavagem de
dinheiro e outros esquemas já conhecido de nossos dirigentes, políticos,
empresários, etc. o que faria este valor multiplicar ou triplicar, além é claro
de que mesmo este valor de 8 bi já possa estar superfaturado ou ter sido fruto
de má emprego e ineficiência de gestão. Lembrando que este não é o montante
total investido, houve recursos vindos de outras fontes inclusive
privadas, que faz o orçamento total ultrapassar os 28 bi de reais. Em pesquisas
básicas encontramos algumas alternativas para esse dinheiro caso fosse
aplicados em melhorias sociais de fato para o povo brasileiro, como a
construção de 8 mil escolas; construção de aproximadamente 96.000 unidades
básicas de saúde; contratar 2 mi de professore de ensino médio por ano; os
R$ 7,1 bilhões investidos nos estádios poderiam ser usados para construir 2.842
km de rodovias, mais da metade da BR-116, maior do país, ou 1.421 km de
ferrovias. Inúmeras outras melhorias poderiam ser feitas com todo o dinheiro,
basta pesquisar para atestar o fato, mas isso os telejornais e mídias de massa
não estão fazendo tanta questão de nos falar.
Ao receber o mundial de braços abertos,
abrimos também nossos braços, bolsos, pernas e tudo mais passível de ser aberto
a FIFA, a autoproclamada Organização sem Fins Lucrativos, o que soaria como
piada, não fosse a revolta imediata. Esta organização reguladora máxima do
futebol mundial com 209 associados (entre países e territórios) implanta um verdadeiro
- usando um certo, mas talvez nem tanto assim, exagero de uma colega - estado
de exceção nos países que recebem os jogos. Em 2010 na copa da África do Sul, a
organização criou um tribunal próprio para julgar delitos cometidos durante a
realização dos jogos, aqui no Brasil ela passou por cima das leis que proibiam
a venda de bebidas alcoólicas no interior dos estádios, afinal não podemos
esquecer que uma das patrocinadoras dos jogos é uma famosa marca cervejeira, ou
seja, não importa a segurança ou o que vai acontecer com as pessoas que estarão
nos estádios por consumir bebida alcoólica, mas ela irão consumir. E assim a
FIFA passa por cima da soberania nacional, social e qualquer outra que possa
existir, atropela as questões de segurança e as nossas particularidades em prol
do seu próprio benefício. Nós somos invadidos, saqueados, roubados e no fim
apenas devemos permanecer calados. A mesma instituição que se diz sem fins
lucrativos e humilde tem uma reserva de 1 bi de dólares, além disso financiou parte
do filme que conta a história do atual presidente da federação Joseph Blatter,
algo em torno de 30 bi de dólares mais de 80% do orçamento do filme, algumas
fontes dizem que o valor seria bem mais alto e a decisão de bancar boa parte do
filme teria vindo do próprio Blatter e para muitos o lançamento as vésperas da
copa não teria passado de uma estratégia que envolve o próprio presidente que
tenta a reeleição pelo quinto mandato. Tirem sua conclusões. Não pára por
aí, a humilde instituição sem fins lucrativos , afirmou que iria
distribuir em 2014 198,7 mi entre os associados, fruto de lucros obtidos, essa
informação é veiculada pelo O Globo, contraditória essa FIFA. Não? O
mesmo presidente em uma entrevista foi perguntado sobre o que poderia ser feito
para tornar o futebol feminino mais popular, ele sugeriu que as mulheres
usassem shorts mais curtos. É meus caros olhem com que tipo de pessoa e
instituição estamos lidando.
A FIFA definirá preços, leis, perímetros
seguros, resumindo, a FIFA será nossa autoridade máxima durante um mês e
ninguém parece se importar muito com isso, estamos sendo invadidos, pessoas
estão perdendo suas casas, direito de ir e vir, de se mobilizar dentro de seus
próprios bairros, mas tudo está bem, afinal estamos recebendo nossa paixão. O
futebol voltou pra casa e os brasileiros, também poderão também voltar?
A excelentíssima presidenta do Brasil
recentemente se pronunciou em rede nacional, pronunciamento que revoltou ainda
mais os revoltados e não convenceu os indecisos. Os aeroportos não ficaram
prontos, os estádios não estão prontos (a Arena Corinthians ainda tinha obras
na área externa menos de quinze dias antes dos jogos), não importa a verba
direcionada a educação nos últimos 8 anos, o que importa é que os 8 bi que
financiaram obras para a Copa são frutos de impostos que deveriam ser
direcionados as áreas de benefícios direto aos que pagaram, o povo, e não para
financiar eventos como a Copa do Mundo. Quando a FIFA se for, levará também os
lucros e nós ficaremos sim com o ônus. Os trabalhadores não atravessam a
cidades em direção ao trabalho de avião, os pobres não terão acesso aos shows e
eventos superfaturados que se realizarão nos estádios, só Deus (e talvez nem
ele) sabe qual será o destino da Arena da Amazônia que sequer possui times de
peso para jogar lá. Os empregos gerados pelas obras estão se findando. E
definitivamente as obras de infra estrutura tem que ser prioridade nacional e
não ser aceleradas porque um evento mundial irá invadir o território, como
disse nossa presidenta. Obras desse tipo tem que beneficiar antes de mais nada,
brasileiros.
Somos apaixonados, somos receptivos,
choramos, cantamos, vibramos, somos um povo feliz, mas também queremos justiça,
igualdade e humanidade. Dessa vez parece que o povo não se calará nem
permanecerá conformado. Nós temos inúmeras prioridades e a Copa não é uma
delas.
O Brasil vai ter copa sim, mas esperamos ter
grandes mudanças, principalmente na mentalidade dos brasileiros também.
Esse Jornalista Explicou para os Americanos... por videosvirais
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