sábado, 1 de fevereiro de 2014

O Beijo!

Respeitável Público: O Beijo!

Depois de anos, um número razoável de folhetins, alguns protagonistas e um bom tempo de trabalho junto ao público brasileiro, uma das maiores emissoras em audiência e arrecadação de nosso país decidiu por enfrentar o preconceito e exibir o tão aclamado, rejeitado, pedido e esperado, beijo gay.
Felix e Niko selaram sua união e amor em uma sequência de três beijos tímidos, entretanto muito bem elaborada, foi um tapa na cara de uma sociedade machista, religiosa e retrógrada, um ato, muito tardio, diga-se de passagem, contra todo tipo de preconceito que os homossexuais vêm sofrendo ao longo dos anos não só no Brasil. Estamos diante de uma quebra de paradigma, estamos diante de um fato histórico que vai mudar daqui em diante a concepção de muitas pessoas em relação aos homossexuais, é triste que essa mudança tenha que partir de um apelo midiático e não tenha sido resultado direto da luta legítima do movimento que há anos batalha pelo reconhecimento dos direitos e liberdade individual e coletiva dos homossexuais.
Milhares de pessoas esperaram e vibraram com um único beijo, um ato tão simples e banal, cuja importância ideológica no contexto não tem tamanho. A mudança da concepção e pensamento do público em geral deve ser considerada, principalmente quando comparamos personagens gays de outras novelas que não tiveram a mesma recepção dispensada a Félix e Niko, na verdade o gay mais bem recebido até hoje sempre foi o gay estereotipado, sozinho, solitário, cuja vida sempre era algo um tanto quanto coadjuvante.
No momento da cena eu estava em um bar e presenciei as mais variadas reações. Desde gritos sufocados cuja sensação passava uma comemoração vitoriosa, até falas abafadas de pessoas que condenavam o que acabaram de ver, claro, não poderia ser diferente. Apesar de finalmente termos assistido ao que muitos chamam de, equivocadamente, “primeiro beijo gay da TV”, isso porque o SBT em “Amor e Revolução” transmitiu um beijo entre duas mulheres, bem mais ousado , digamos, ainda assim não podemos negar que a emissora em questão tem um alcance e influência muito maior e a cena acontecer num folhetim transmitido por ela, tem um enorme impacto inquestionavelmente.
A sensação que permanece é a de insegurança, o beijo aconteceu. E agora? O que vamos fazer com isso? Para onde vamos caminhar? Que caminhos de discussão vamos trilhar?
Como nunca antes, temos um terreno aberto para nos mostrarmos, para falar, conversar e discutir. Temos espaço, coisa que era inimaginável há cinco anos.  A Globo, apesar de todos os pesares que eu levanto no próximo texto que publicarei aqui, sem sombra de dúvida deu um chute na cara de muita gente colocando em xeque posições extremadas e equivocadas. Onde fica a cura gay? Para onde vão as posições mantidas pelos nossos ilustríssimos parlamentares nesse novo contexto?
O que mais deve ser pesado nessa balança é que pela primeira vez a relação entre pessoas do mesmo sexo foi tratada com naturalidade, o amor entre Felix e o Niko foi representado, assim como é feito para o amor entre casais heterossexuais, com leveza e maturidade, isso possibilita que diversas visões distorcidas dos relacionamentos entre gays possam ser quebradas e desmistificadas, finalmente, devido ao alcance que felizmente ou infelizmente só uma emissora de TV desse porte conseguiria. Resta saber e esperar as cenas do próximo capítulo.
Nossa torcida é sempre pelo avanço, pelo diálogo, respeito e liberdade de cada indivíduo em exercer sua cidadania e personalidade por completo. 

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