terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Machista II

O Super (gay) Machista
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Diante de intolerância e preconceito a reação esperada é uma contra-argumentação sólida e coesa por parte dos atingidos por este tipo de violência. Não é nenhuma exclusividade, nem assunto novo por aqui falar sobre homofobia e o massacre, nem sempre físico, que ela empreende dia a dia. Mas o que dizer e sentir quando esta homofobia vem de indivíduos que deveriam no mínimo construir um discurso e reflexão contrários a ela? O que pensar quando um gay é machista?
Sabemos que a opressão é seletiva relacionando-se especialmente à classe, ao sexo, ao gênero, à cor da pele, dentre tantos outros critérios, há uma hierarquia entre as pessoas e o grau de opressão que as atinge, o que nos permite dizer que a mulher cis hetero branca de classe média não é oprimida da mesma forma e intensidade que a mulher cis, hetero, preta de classe média; ou que o preconceito que recai sobre o homem cis, homossexual, branco de classe média também não é o mesmo sofrido pelo homem cis, homossexual, preto e pobre. Entre as diferenças o grau de opressão se intensifica, porém o mais abominável é constatar que em alguns casos o oprimido toma o discurso do opressor e passa a fazê-lo indiscriminadamente, produzindo ainda mais preconceito, reproduzindo homofobia e promovendo ódio, isso acontece em diferentes circunstâncias.
Algumas posições fornecem determinados privilégios, por exemplo, o gay branco de classe média  se encontra em uma situação que pode distanciá-lo -ao menos aparentemente- da luta em que ele, mesmo sem querer, está inserido, que diz respeito à conquista de direitos e dignidade aos homossexuais, não faltam exemplos práticos e caricatos em nossa sociedade. Provavelmente você já deve ter ouvido algo do tipo: " - Sou gay, mas sou discreto."; "- Não curto afeminados.", "Ser gay tudo bem, agora querer ser mulher é demais." etc. Todas estas falas podem vir ou mesmo já vieram de homossexuais, que tomando um discurso preconceituoso discriminam aqueles que deveriam ser aliados ou companheiros de luta. O discurso pode ser ainda pior em relação as lésbicas e pessoas trans.
Não queremos dizer que é apenas o homem gay branco, cis de classe média que possui tal pensamento e atitude, longe disso, na verdade ele é espalhado por todos os âmbitos do meio LGBT, mas nesse caso há uma situação privilegiada usufruída por essas pessoas. Posição confortável ao ponto de não fazer sentido a elas falar em preconceito ou luta por direito e dignidade, se estivermos falando de um homossexual não bem resolvido com sua sexualidade, o cenário piora.
O quadro desenhado acima acaba por gerar uma das figuras mais contraditórias, a nosso ver, no meio LGBT, o gay machista, aquele que não se vê enquanto gay, menos ainda como LGBT, aquele que irá oprimir o afeminado, o trans, em não poucos casos, as lésbicas e compartilhar de discursos e atitudes próprias de homofóbicos, nem precisamos ir muito longe para chegar onde pretendemos, basta mirar na figura do deputado federal Jean Wyllys. O Jean se tornou um dos maiores políticos engajados na luta pelos direitos LGBT, mas não só, devido a isso, tornou-se alvo fácil e frequente de diversos políticos conservadores, machistas, preconceituosos e como o próprio Jean menciona em alguns casos, fascistas, assim, como da sociedade em geral.
Ao analisar o contexto em que se construiu e vive a sociedade brasileira, uma democracia recente, é bom lembrar, não seriam novidade os ataques que recairiam sobre a figura do deputado, mas a surpresa fica por conta dos inúmeros gays declarados que se posicionam contrários a política feita por Jean, claro que todos têm o direito de apoiar e criticar quem quer que seja. Não se deve apoiar um político, apenas por ele ser gay, preto, branco, católico, evangélico, de origem rica ou pobre, etc., mas sim pelas propostas deste para com a população, no  entanto, é de se esperar um mínimo de consciência crítica, especialmente por parte das minorias, como é o caso dos homossexuais, na hora de eleger seus representantes, lembrando que vivemos em um dos países que mais mata travestis e transexuais
Jean Wyllys é caluniado frequentemente, os absurdos vão desde afirmações que dizem que ele quer alterar a bíblia até ser a favor de se destruir a figura de pai e mãe, claro que cada acusação e calúnia é muito bem voltada a interesses específicos, mas isso é assunto de outro momento, o que nos interessa é observar como diversos gays acabam por reproduzir tal discurso e oprimir ainda mais outros gays ao tentar se colocar em posição de superioridade com base em sua posição social ou não, durante certa ocasião em uma entrevista veiculada por uma emissora de TV aberta, um individuo gay teceu inúmeras críticas infundadas ao Jean, o desqualificando enquanto pessoa, enquanto deputado e enquanto gay; o mesmo indivíduo fez um discurso bem diferente sobre a pessoa de Silas Malafaia quase convidando-o para um café. Diante de tal quadro fica evidente a forma como a homofobia é interiorizada pelo próprio homossexual, em alguns casos, pelos mais diversos motivos, entretanto o fundamento é quase sempre o mesmo.

A identificação enquanto homossexual falta, a conscientização dos papéis sociais falta, a politização necessária enquanto indivíduos indiscutivelmente oprimidos também falta, sendo substituídas por um entendimento raso do mundo circundante, o gay se exime da luta, se exime da homossexualidade e do sangue derramado, para estar no lado que oprime e faz sangrar, na busca, de não sabemos o quê. 

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