O Super (gay) Machista
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Diante de
intolerância e preconceito a reação esperada é uma contra-argumentação sólida e
coesa por parte dos atingidos por este tipo de violência. Não é nenhuma
exclusividade, nem assunto novo por aqui falar sobre homofobia e o massacre,
nem sempre físico, que ela empreende dia a dia. Mas o que dizer e sentir quando
esta homofobia vem de indivíduos que deveriam no mínimo construir um discurso e
reflexão contrários a ela? O que pensar quando um gay é machista?
Sabemos que
a opressão é seletiva relacionando-se especialmente à classe, ao sexo, ao
gênero, à cor da pele, dentre tantos outros critérios, há uma hierarquia entre
as pessoas e o grau de opressão que as atinge, o que nos permite dizer que a
mulher cis hetero branca de classe média não é oprimida da mesma forma e
intensidade que a mulher cis, hetero, preta de classe média; ou que o
preconceito que recai sobre o homem cis, homossexual, branco de classe média
também não é o mesmo sofrido pelo homem cis, homossexual, preto e pobre. Entre
as diferenças o grau de opressão se intensifica, porém o mais abominável é
constatar que em alguns casos o oprimido toma o discurso do opressor e passa a
fazê-lo indiscriminadamente, produzindo ainda mais preconceito, reproduzindo
homofobia e promovendo ódio, isso acontece em diferentes circunstâncias.
Algumas
posições fornecem determinados privilégios, por exemplo, o gay branco de classe
média se encontra em uma situação que
pode distanciá-lo -ao menos aparentemente- da luta em que ele, mesmo sem
querer, está inserido, que diz respeito à conquista de direitos e dignidade aos
homossexuais, não faltam exemplos práticos e caricatos em nossa sociedade.
Provavelmente você já deve ter ouvido algo do tipo: " - Sou gay, mas sou
discreto."; "- Não curto afeminados.", "Ser gay tudo bem,
agora querer ser mulher é demais." etc. Todas estas falas podem vir ou
mesmo já vieram de homossexuais, que tomando um discurso preconceituoso
discriminam aqueles que deveriam ser aliados ou companheiros de luta. O
discurso pode ser ainda pior em relação as lésbicas e pessoas trans.
Não queremos
dizer que é apenas o homem gay branco, cis de classe média que possui tal
pensamento e atitude, longe disso, na verdade ele é espalhado por todos os
âmbitos do meio LGBT, mas nesse caso há uma situação privilegiada usufruída por
essas pessoas. Posição confortável ao ponto de não fazer sentido a elas falar
em preconceito ou luta por direito e dignidade, se estivermos falando de um
homossexual não bem resolvido com sua sexualidade, o cenário piora.
O quadro
desenhado acima acaba por gerar uma das figuras mais contraditórias, a nosso
ver, no meio LGBT, o gay machista, aquele que não se vê enquanto gay, menos
ainda como LGBT, aquele que irá oprimir o afeminado, o trans, em não poucos
casos, as lésbicas e compartilhar de discursos e atitudes próprias de
homofóbicos, nem precisamos ir muito longe para chegar onde pretendemos, basta
mirar na figura do deputado federal Jean Wyllys. O Jean se tornou um dos
maiores políticos engajados na luta pelos direitos LGBT, mas não só, devido a
isso, tornou-se alvo fácil e frequente de diversos políticos conservadores,
machistas, preconceituosos e como o próprio Jean menciona em alguns casos,
fascistas, assim, como da sociedade em geral.
Ao analisar
o contexto em que se construiu e vive a sociedade brasileira, uma democracia
recente, é bom lembrar, não seriam novidade os ataques que recairiam sobre a
figura do deputado, mas a surpresa fica por conta dos inúmeros gays declarados
que se posicionam contrários a política feita por Jean, claro que todos têm o
direito de apoiar e criticar quem quer que seja. Não se deve apoiar um
político, apenas por ele ser gay, preto, branco, católico, evangélico, de
origem rica ou pobre, etc., mas sim pelas propostas deste para com a população,
no entanto, é de se esperar um mínimo de
consciência crítica, especialmente por parte das minorias, como é o caso dos
homossexuais, na hora de eleger seus representantes, lembrando que vivemos em
um dos países que mais mata travestis e transexuais.
Jean Wyllys
é caluniado frequentemente, os absurdos vão desde afirmações que dizem que ele
quer alterar a bíblia até ser a favor de se destruir a figura de pai e mãe,
claro que cada acusação e calúnia é muito bem voltada a interesses específicos,
mas isso é assunto de outro momento, o que nos interessa é observar como
diversos gays acabam por reproduzir tal discurso e oprimir ainda mais outros
gays ao tentar se colocar em posição de superioridade com base em sua posição
social ou não, durante certa ocasião em uma entrevista veiculada por uma
emissora de TV aberta, um individuo gay teceu inúmeras críticas infundadas ao
Jean, o desqualificando enquanto pessoa, enquanto deputado e enquanto gay; o
mesmo indivíduo fez um discurso bem diferente sobre a pessoa de Silas Malafaia
quase convidando-o para um café. Diante de tal quadro fica evidente a forma
como a homofobia é interiorizada pelo próprio homossexual, em alguns casos,
pelos mais diversos motivos, entretanto o fundamento é quase sempre o mesmo.
A
identificação enquanto homossexual falta, a conscientização dos papéis sociais falta,
a politização necessária enquanto indivíduos indiscutivelmente oprimidos também
falta, sendo substituídas por um entendimento raso do mundo circundante, o gay
se exime da luta, se exime da homossexualidade e do sangue derramado, para
estar no lado que oprime e faz sangrar, na busca, de não sabemos o quê.
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