Oi pessoal! Mais uma semana com publicação
aqui no Alternnativa, não queremos criar falsas expectativas, mas ao que tudo
indica iremos conseguir estabelecer nosso plano de postar material a cada quinze
dias, sempre às quartas-feiras.
Hoje trazemos um texto que discute mais uma
vez as imposições sociais ligadas ao gênero e à sexualidade, o texto resgata
algumas discussões já feitas em outros momentos aqui no blog e avança um pouco mais, para
abrir espaço às futuras reflexões que faremos.
Gênero e Sexualidade como Imposições Sociais
Imagem: www.sertaonahora.com.br
Ao nascer chegamos a um mundo e a uma
sociedade que já estão edificados, nosso papel de construção e mudança é, a
princípio, restrito, porque uma gigante parte dos elementos que farão ou
deveriam fazer parte de nossa personalidade já estão dados e pouco poderá ser modificado.
Dois destes elementos dizem respeito a nossa
sexualidade e ao nosso gênero, os que nascem com vagina são socialmente
mulheres, que devem se relacionar amorosa e sexualmente com homens; paralelo
similar vale para os que nascem com pênis, socialmente homens, devendo
relacionar-se com mulheres. São elementos que aos olhos de nossa sociedade heteronormativa são tão naturais e inatos quanto nossas digitais.
O
processo social do qual somos herdeiros não permite divergência, alternativa ou
mudança, entretanto, o mesmo processo não leva em conta que o ser humano é um
complexo inexplicável de sensações, sentimentos, pensamentos e contraditoriedades,
tornando impossível a simples determinação de sua sexualidade pelo outro, pela
sociedade ou ainda por uma parte isolada de seu corpo físico.
O homossexual, o trans, o não-binário (temos
consciência de se tratar de características ligadas a orientação sexual e a
identidade de gênero) sentem-se
diferentes desde muito cedo, não à toa, é comum ouvirmos coisas do tipo:
- Ele
nunca gostou de brincar com carros, preferia as bonecas.
- Quando ela era pequena vivia no meio dos "moleques",
odiava laços no cabelo, brincos, vestidos, ou coisas assim.
- Ah,
ele era diferente desde pequeno.
A
diferença emerge no momento em que o indivíduo não consegue se ver enquadrado
nos modelos sociais institucionalizados, os quais ele deveria incorporar.
Distanciando-nos de qualquer reducionismo simplista é preciso deixar muito bem
claro que nem sempre a pessoa homossexual não se identificará com os elementos atribuídos
socialmente ao gênero em que ela foi designada ao nascer. Há mulheres cis lésbicas que
brincaram com bonecas, usaram e usam roupas socialmente tidas como femininas, ou
homens cis gays que brincaram e se identificaram/identificam com os elementos atribuídos, socialmente, a ele,
como o futebol, por exemplo, isso só afirma a complexidade e o quão é difícil
enquadrar as pessoas, de forma ampla, em classificações rígidas e
cristalizadas. Estamos muito longe de ser elementos estáticos e classificáveis,
tais quais os que encontram-se organizados na tabela periódica.
O horizonte que devemos vislumbrar e lutar
para que a sociedade também o vislumbre é aquele que permite a liberdade de
vivência individual, não precisamos, na verdade não devemos partir dos
princípios que determinam as formas como cada indivíduo deve portar-se. O
caminho natural poderia ser o da livre descoberta, da livre aceitação e do
livre reconhecimento de si mesmo. Antes de podermos entender quem somos, nossos
médicos, nossos pais, nossa religião, nossa escola e nossa sociedade já nos
definiu, já nos sonhou, planejou e nos realizou. Em última instância já somos a
realização do sonho do outro, o que torna bastante problemático o momento em
que decidimos ter nossos próprios sonhos e seguir nossa própria identidade,
especialmente quando tais sonhos e identidade estão muito distantes daquilo que
foi esperado de nós.
A questão do sonho dos outros é extremamente
complicada e pode gerar uma série de conflitos e problemas, não só no âmbito da
sexualidade e gênero. Não é incomum a problemática que se estabelece entre pais
e filhxs quando, por exemplo, há uma discordância em relação ao curso superior
que estes irão escolher, por exemplo. Se
levarmos o mesmo raciocínio para o campo da sexualidade e do gênero, temos uma
ideia do quão pode ser difícil e trágico o entendimento de tal situação,
justamente porque nossa sociedade não admite sob hipótese alguma tais
possibilidades. Infelizmente nos deparamos com esta intolerância e falta de
entendimento na figura de nossos pais, familiares, amigos, colegas, etc., e o
processo de entendimento ainda é, em boa parte dos casos, doloroso e
traumático.
Felizmente o mundo tem caminhado por uma
estrada que tem aberto diálogos, maiores entendimentos, possibilidades de
reflexão mais profunda e hoje, apesar de diversas limitações promovidas pelo
pensamento conservador, intolerante e preconceituoso, conseguimos promover
debates acerca da sexualidade, do gênero, das identidades e não há dúvida de que o debate hoje no século XXI, está bem distante
do vivenciado na década de 1950 ou 1970, entretanto, ainda temos muito a avançar e
construir, esta luta não pode parar, precisa permanecer firme, pelo menos até o
dia em que ninguém morra ou se fira por ser lésbica, trans ou gay. Até o dia em
que entender-se homossexual ou trans não signifique trilhar um caminho árduo,
repleto de pedras, obstáculos, agressões, assassinatos ou mesmo suicídio, como infelizmente
ainda ocorre.
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