Hoje não, Sociedade!
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Há em nosso
mundo uma série de condicionantes para a vida em sociedade. Desde muito cedo, a vivência e o processo de
socialização, do qual também somos fruto, incute em nossa mente um sem número de
desejos e aspirações, muitas vezes, estranhos a nós.
Para aqueles
que não conseguem escapar ao rolo opressor da cultura ocidental, machista,
branca, heteronormativa, e acrescentamos também romântica, solidificam-se na
mente e no imaginário alguns pré-conceitos, idealizações e sonhos, que podem
não ser necessariamente da pessoa em questão, mas antes os sonhos que a
sociedade, de maneira ampla, sonhou para e por ela.
O amor
romântico, o casal do comercial de margarina, dos finais da novela das seis,
dos filmes holllywodianos e tudo mais que está embutido nesse contexto é a
nosso ver, um dos produtos mais bem sucedidos dessa cultura, tão bem difundido
e amarrado a necessidade individual e social de cada pessoa inserida nesse
mundo, que a torna automaticamente um ser estranho, problemático e, principalmente, infeliz, caso ela não consiga alcançar a maior promessa
histórica de felicidade: o amor. Amor cristalizado na figura do outro, o qual
traz consigo uma das maiores buscas do ser humano contemporâneo: A felicidade e felicidade para sempre.
Afinal, amar
é mesmo para todos? A felicidade está no amor? Felizes para sempre não seria
apenas uma criação ilusória de fuga, difundida pelos encantadores e encantados
contos de fadas, criados apenas como mais um mecanismo de controle social e/ou
reprodução do capital sob diversos aspectos?
Um
questionamento no mínimo complexo e problemático, para não dizer descabido,
pois parece não haver necessidade nenhuma de discutir os mecanismos capazes de
trazer a felicidade, menos ainda se estes mecanismos se aplicam a todos de
maneira uniforme, já que parece ser universalmente aceito que a felicidade está
mesmo no amor e todos precisam encontrar sua metade, senão a tristeza e a busca
permanentes parecem ser o destino desses. Nossa visão e percepção de mundo é
permeada pelos valores sociais e culturais da sociedade em que vivemos, a busca
pelo amor romântico e o condicionamento da felicidade a ele é um desses
valores.
A busca pelo
amor se torna objetivo de muitos, entretanto, é preciso ter em mente que cada
pessoa pode e deve ter o direito de empreender as próprias buscas e estabelecer
os próprios objetivos de vida, sem isso significar uma frustração ou motivo
para dizer que determinada pessoa jamais será feliz por não ter encontrado alguém
para partilhar a vida, talvez esse objetivo nunca tenha passado pela cabeça
dela.
Determinadas
cobranças parecem nunca acabar: E xs namoradxs? E o casamento? E xs filhxs?
Cada pessoa tem (ou, ao menos, deveria ter) o direito de estabelecer as
próprias prioridades. Entre as quais, namorar, casar-se ou mesmo ter filhxs
pode não ter lugar. A infelicidade não deve estar na ausência do outro, porque
cada um precisa ser capaz de ser feliz sozinho primeiro, apenas assim, uma
segunda vida pode fazer sentido.
Certos
padrões e verdades precisam ser questionados, pois a vida não deve seguir
rígidas linhas ou os desejos que outros depositaram sobre nós. A construção de
preconceitos segue a mesma lógica, pois esse é gerado pelo estranhamento aquilo
que não segue um determinado padrão esperado. Uma mulher que deliberadamente
decide não se casar ou ter filhxs, gera esse estranhamento porque "é
natural à mulher que ela seja mãe", percebam que o mesmo estranhamento não
ocorre com a mesma dimensão em relação ao homem, entretanto, caso ele, por
qualquer motivo que seja, não estabelecer um relacionamento com uma mulher
(caso ele seja hétero), o questionamento será: "Tal fulano está sozinho
nessa idade, será que é gay?".
Dificilmente
o pensamento em relação a esses indivíduos irá centrar-se na hipótese de que
eles possam ter escolhido livremente não ter ninguém ao lado, em vez de
significar, necessariamente, que não houve pessoas dispostas a amá-los ou
vice-versa.
Mais uma vez
estamos em uma questão trabalhada em outros momentos aqui, trata-se da liberdade
individual em poder escolher como caminhar, como viver, sem os pré-julgamentos
ou necessidades sociais para com nossas vidas. Cada indivíduo precisa ter a
liberdade de fazer suas escolhas, sejam elas quais forem. Namorar, noivar,
casar, ter filhos, enfim, cada uma dessas etapas não são uma necessidade
universal de felicidade. Cada um encontra, ou ao menos deveria encontrar, a
felicidade à sua maneira.
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