Relação sem padronização
Image courtesy of David Castillo Dominici at FreeDigitalPhotos.net
Ao longo do tempo, a sociedade parece ter
desenvolvido a necessidade de criar estereótipos a todos nós, cada indivíduo
tem de ser devidamente colocado dentro de uma caixa especificamente rotulada,
isso começa antes mesmo de nascermos: o
rótulo mulher/homem nos é entregue antes de nossa constituição social.
A não capacidade de enquadrar e identificar cada pessoa ou situação parece gerar um profundo incômodo e até revolta em determinados seres humanos e grupos.
A não capacidade de enquadrar e identificar cada pessoa ou situação parece gerar um profundo incômodo e até revolta em determinados seres humanos e grupos.
A necessidade social de estereotipar e
rotular tudo que é possível causa um verdadeiro imbróglio quando falamos em
relacionamentos, especialmente ao se considerar as inúmeras possibilidades de
relacionamentos que a cada dia ganham força, evidência e adeptxs. A história
humana criou uma série de regras e necessidades coletivas, entre elas está o
envolvimento afetivo e obrigatório por pessoas, e pessoas de sexo oposto,
porém, a complexidade humana é infinitamente maior do que as regras
reducionistas ditadas pela sociedade; a forma de nos relacionarmos não deve
ser pautada por receitas conservadoras e falidas, isso já foi assunto em outro momento aqui, inclusive.
Da mesma forma que o processo de
socialização, desde muito cedo, nos mostra que precisamos obrigatoriamente ser
pessoas cisexuais, heterossexuais, monogâmicas e seguir os modelos e padrões impostos ao longo
da vida, também nos diz a maneira como devemos nos relacionar
afetivamente com o outro. Mas e quando há um questionamento deste modelo e destas regras? E quando o individuo não quer se relacionar de uma maneira 'convencional'?
Sempre que lidamos com situações que
pressupõem um questionamento dos padrões vigentes e aceitos como "normais",
precisamos estar dispostos ao conflito, à discussão e à luta, pois ir contra
uma corrente estabelecida há milênios, não costuma ser algo de muita
facilidade. O texto passado falava sobre relacionamentos gays e a não categorização do envolvimento afetivo,
especialmente por ser impossível estabelecer regras ou receitas para tratar de
pessoas essencialmente diferentes, em situações totalmente variadas; pois bem,
é preciso mais que nunca falar sobre as possibilidades de se relacionar e questionar o modelo tradicional monogâmico e heterossexual. Não se trata, no
entanto, de uma tentativa de desconstruir ou invalidar essa ou aquela forma de relacionamento, pelo
contrário, apenas um intento de mostrar a diversidade possível nas maneiras de
se relacionar e garantir o respeito às decisões individuais.
Muito se fala sobre a instituição do
relacionamento monogâmico como uma imposição estranha ao humano, que é por
natureza, na visão de alguns, um ser de relacionamentos múltiplos, sendo muito
mais espontânea a possibilidade de não se fechar de forma imposta. Ora, não é
difícil encontrar pela internet ou mesmo em nosso convívio, estatísticas, dados
e relatos de relações fechadas em teoria, cujos envolvidos mantêm casos
extraconjugais. Será que há certa dose de hipocrisia?
A instituição dos relacionamentos prevê
inúmeras regras, preceitos, valores e uma moral conservadora. Ao longo da vida, aprendemos a sonhar, desejar e estabelecer o relacionamento com o outro: o
namoro, o noivado ou o casamento, sem nunca questionarmos o porquê da construção, da forma e mesmo o porquê de necessariamente termos que viver essa aspiração
social. Podemos não querer um namoro, um noivado ou mesmo o casamento em nossa
individualidade, contudo, a sociedade não aceita sob hipótese alguma tal opção.
Então, como falar em relacionamento aberto, por exemplo, nesse contexto conservador?
O relacionamento aberto, o amor livre, o polimor, dentre tantas outras possibilidades, vem a cada dia
ganhando espaço e ressonância entre pessoas, que desde algum momento passaram a
questionar as relações tradicionais, encarando-as como problemáticas, hipócritas
e inviáveis; não a relação em si, mas sim o discurso que as constrói e as cristaliza.
A cada dia que passa, caminhamos para a construção de
uma sociedade que se pautará pela diversidade, na qual não deverá haver outro caminho, senão aquele do diálogo, debate, reflexão e respeito; ao propor
discussões como essa não pretendemos invalidar ou deslegitimar as variadas
formas de relacionamentos possíveis, abertos ou monogâmicos, pelo contrário,
trata-se na verdade de tentativas de evidenciar a diversidade, a diferença, para
que com o conhecimento, cresça o respeito; para que as pessoas
possam saber que ao contrário do que elas aprenderam, há inúmeras formas de se
relacionar, de apaixonar-se e de se envolver.
O afeto é por natureza livre, não pode haver medida ou regras com o objetivo de padronizá-lo ou categorizá-lo.
O afeto é por natureza livre, não pode haver medida ou regras com o objetivo de padronizá-lo ou categorizá-lo.