A esquerda parece contra Dilma?
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Passaram-se nove dias da posse da presidenta
reeleita, Dilma Roussef. Ficou para trás uma das eleições mais acirradas desde
a redemocratização, também ficou para trás uma das maiores mobilizações da
esquerda em prol de uma candidato que as gerações mais novas já viu.
Conseguimos, a candidata escolhida por nós foi eleita. Mas quem disse que era
ela, de fato, a nossa opção?
O Brasil ao longo de sua história recente
sofreu o golpe e o governo de uma longa e massacrante ditadura militar, após
isso sucessivos governos democráticos pouco simpáticos a esquerda e ao povo
desse país. Em 2003, um sonho de todos que um dia lutaram pela liberdade e
democracia, subiu a rampa do Palácio do Planalto. Foi eleito um presidente de
um partido até então reconhecido e tido como de esquerda, um ato que
representou muito mais do que apenas a vitória da democracia, um ato que
representou a vitória e a redenção de um povo que sofreu, lutou e morreu para
que nós tivéssemos dias melhores, dias de liberdade.
Foram duas gestões do presidente Lula,
gestões marcadas por corrupção, decepção e pelo abandono de bandeiras
partidárias fundamentais, como a reforma agrária. Foram também gestões de
ganhos sociais não menos consideráveis, porém muito aquém do que toda a
esquerda mobilizada e cheia de esperança, aguardava ansiosamente há séculos.
A sequência da "esquerda" foi
garantida, desta vez por uma mulher, ex-perseguida política durante a ditadura.
Dilma representa muito mais do que Lula representou ao ser eleito, ela
representa que, de fato, o passado sombrio e trevoso ficou, de uma vez por
todas, para trás, representa que, de fato, este país ainda profundamente
machista, caminha para um futuro de igualdade de gênero ao colocar uma mulher
no mais alto cargo executivo existente aqui. Representa ainda que nós
brasileiros, não estamos dispostos a abrir mão de nenhum ganho social, de
nenhuma política de inserção do povo em todos os âmbitos da vida em sociedade.
Representa que nunca permitiremos que os números da fome voltem ao patamar que
eram e que lutaremos até o fim para não permitir que o Brasil esteja novamente
no mapa da fome um dia.
A escolha pela eleição de nossa atual
presidenta, rachou a esquerda, é preciso ser dito. Sabemos que há muito o PT
esqueceu ou ao menos deixou de lado suas origens, muito pelos jogos políticos
que se configuram e exigem posições pouco louváveis de nossos eleitos; muito
também pelas mudanças de concepção e prioridade que todo ser humano passa.
Todos sabíamos que não seria um governo fácil
e não será, basta lembrar que nossa câmara é uma das mais conservadoras desde a
redemocratização. Me parece um tanto quanto curioso essa sequência de fatos que
não acontecem desde a redemocratização, pois mostram um período de franca
transição, não de retrocesso.
O período eleitoral foi marcado por intensas
e calorosas discussões, os mais extremos desfizeram amizades e relacionamentos,
alteram seus círculos de contato, pois não admitiram certas posicionamentos. Boa
parte da esquerda nunca quis Dilma, isso porque sabem que seu governo e partido
de fato não mais representam essa ideologia, mas se viram quase que obrigados a
apoiá-la, para não permitir que um candidato posicionado mais a direita e
apoiado por inúmeros conservadores e extremistas não alcançasse o cargo
presidencial, portanto a escolha foi, antes de mais nada, um grito pelo não
retrocesso, que inevitavelmente aconteceria.
Nossa presidenta após eleita, no entanto, tem
tomado atitudes que a configurariam como uma candidata simpática a direita,
pela postura política, como a recente nomeação de seu novo ministério. Nossa
"direita" (boa parte das pessoas que criticam os governos de Dilma e
Lula não necessariamente são da direita, antes são massa de manobra rasa de
nossa mídia tendenciosa, por exemplo) contraditória e fraquíssima em argumentos
continua fazendo critica pela critica, mesmo que a presidenta tome a postura
que eles esperam. Já a esquerda, obviamente está revoltada e é assim mesmo que
ela tem que ficar. Nós cobraremos o nosso voto, cobraremos o nosso governo,
nossos direitos e nossa ideologia.
A eleição é só o inicio de um processo que
dura quatro anos, eleger um candidato não significa se calar e aceitar seu
governo sem indagação, muito pelo contrário. Nosso voto é caro, nosso voto é
precioso, portanto o governo precisa valorizá-lo e fazer jus a cada voto
recebido. Não nos calaremos diante das medidas impopulares, não nos calaremos
diante do abandono da reforma agrária e jamais nos calaremos diante de um
governo que abandona a esquerda sob qualquer hipótese. Elegemos sim, e agora
mais que qualquer um temos a obrigação moral de criticar, cobrar e reivindicar.