quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Padrões Sociais

Hoje não, Sociedade!
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Há em nosso mundo uma série de condicionantes para a vida em sociedade. Desde muito cedo, a vivência e o processo de socialização, do qual também somos fruto, incute em nossa mente um sem número de desejos e aspirações, muitas vezes, estranhos a nós.
Para aqueles que não conseguem escapar ao rolo opressor da cultura ocidental, machista, branca, heteronormativa, e acrescentamos também romântica, solidificam-se na mente e no imaginário alguns pré-conceitos, idealizações e sonhos, que podem não ser necessariamente da pessoa em questão, mas antes os sonhos que a sociedade, de maneira ampla, sonhou para e por ela.
O amor romântico, o casal do comercial de margarina, dos finais da novela das seis, dos filmes holllywodianos e tudo mais que está embutido nesse contexto é a nosso ver, um dos produtos mais bem sucedidos dessa cultura, tão bem difundido e amarrado a necessidade individual e social de cada pessoa inserida nesse mundo, que a torna automaticamente um ser estranho, problemático e, principalmente, infeliz, caso ela não consiga alcançar a maior promessa histórica de felicidade: o amor. Amor cristalizado na figura do outro, o qual traz consigo uma das maiores buscas do ser humano contemporâneo: A felicidade e felicidade para sempre.
Afinal, amar é mesmo para todos? A felicidade está no amor? Felizes para sempre não seria apenas uma criação ilusória de fuga, difundida pelos encantadores e encantados contos de fadas, criados apenas como mais um mecanismo de controle social e/ou reprodução do capital sob diversos aspectos?
Um questionamento no mínimo complexo e problemático, para não dizer descabido, pois parece não haver necessidade nenhuma de discutir os mecanismos capazes de trazer a felicidade, menos ainda se estes mecanismos se aplicam a todos de maneira uniforme, já que parece ser universalmente aceito que a felicidade está mesmo no amor e todos precisam encontrar sua metade, senão a tristeza e a busca permanentes parecem ser o destino desses. Nossa visão e percepção de mundo é permeada pelos valores sociais e culturais da sociedade em que vivemos, a busca pelo amor romântico e o condicionamento da felicidade a ele é um desses valores.
A busca pelo amor se torna objetivo de muitos, entretanto, é preciso ter em mente que cada pessoa pode e deve ter o direito de empreender as próprias buscas e estabelecer os próprios objetivos de vida, sem isso significar uma frustração ou motivo para dizer que determinada pessoa jamais será feliz por não ter encontrado alguém para partilhar a vida, talvez esse objetivo nunca tenha passado pela cabeça dela.
Determinadas cobranças parecem nunca acabar: E xs namoradxs? E o casamento? E xs filhxs? Cada pessoa tem (ou, ao menos, deveria ter) o direito de estabelecer as próprias prioridades. Entre as quais, namorar, casar-se ou mesmo ter filhxs pode não ter lugar. A infelicidade não deve estar na ausência do outro, porque cada um precisa ser capaz de ser feliz sozinho primeiro, apenas assim, uma segunda vida pode fazer sentido.
Certos padrões e verdades precisam ser questionados, pois a vida não deve seguir rígidas linhas ou os desejos que outros depositaram sobre nós. A construção de preconceitos segue a mesma lógica, pois esse é gerado pelo estranhamento aquilo que não segue um determinado padrão esperado. Uma mulher que deliberadamente decide não se casar ou ter filhxs, gera esse estranhamento porque "é natural à mulher que ela seja mãe", percebam que o mesmo estranhamento não ocorre com a mesma dimensão em relação ao homem, entretanto, caso ele, por qualquer motivo que seja, não estabelecer um relacionamento com uma mulher (caso ele seja hétero), o questionamento será: "Tal fulano está sozinho nessa idade, será que é gay?".
Dificilmente o pensamento em relação a esses indivíduos irá centrar-se na hipótese de que eles possam ter escolhido livremente não ter ninguém ao lado, em vez de significar, necessariamente, que não houve pessoas dispostas a amá-los ou vice-versa.
Mais uma vez estamos em uma questão trabalhada em outros momentos aqui, trata-se da liberdade individual em poder escolher como caminhar, como viver, sem os pré-julgamentos ou necessidades sociais para com nossas vidas. Cada indivíduo precisa ter a liberdade de fazer suas escolhas, sejam elas quais forem. Namorar, noivar, casar, ter filhos, enfim, cada uma dessas etapas não são uma necessidade universal de felicidade. Cada um encontra, ou ao menos deveria encontrar, a felicidade à sua maneira.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Cuatro Lunas

Oi gente's, tudo bem com vocês?
Como há muito não postamos nada sobre cinema, hoje trazemos uma sugestão ótima para aquela noite ou mesmo para o fim 
de semana. Assistimos "Cuatro Lunas" e ficamos encantados com o enredo e a produção. Leia nosso breve comentário, assista ao filme e volte para deixar sua opinião.
Cuatro Lunas
Um drama sincero




Filme de 2014, Cuatro Lunas foi dirigido por Sergio Tovar Velarde. Em alusão clara às quatro fases da lua, o filme retrata o cotidiano de quatro indivíduos homossexuais, cada qual vivendo sua vida, enfrentando seus problemas e tendo de lidar com as contraditoriedades encontradas pelo caminho, as histórias são independentes e não se cruzam no roteiro.
Velarde dirige um drama que não escorrega no exagero, faz romance sem cair em estereótipos ou clichês, retrata desejo sem deixar de lado a humanidade, consegue trazer histórias já conhecidas com sabor de descoberta. É assim que "Cuatro Lunas" prende o expectador. De forma delicada e singela, mostra que antes de qualquer questão, somos humanos e como tais, estamos sujeitos a erros, a acertos, a escolhas equivocadas, a chorar e a lidar com as consequências de nossos passos.
Qual a reação de um jovem que, descobrindo a sexualidade, sente-se atraído pelo primo? As dúvidas sobre o corpo e os próprios desejos se intensificam, o primo que é a pessoa do mesmo sexo de maior proximidade se torna a possibilidade da descoberta e fica claro que a lua nova marca este momento, a questão não é amor ou um sentimento profundo ligando uma pessoa à outra, trata-se antes do novo, da doce descoberta da sexualidade e o turbilhão de sensações que o momento traz a cabeça e à vida de um indivíduo.       
Quarto crescente fala de reencontro, fala de entendimento. Trata-se de um coincidente reencontro de dois amigos de infância que descobrem um sentimento além da amizade entre eles. Os problemas vêm de ambos os lados, um deles perdeu o pai, a mãe está desestruturada, inclusive para ouvi-lo, e para piorar, a situação econômica deles não é favorável. O outro vive no armário e tem uma noiva para enganar aos outros e a si mesmo. O que pode ocorrer quando os dois se apaixonarem? Será que haverá estrutura para que a relação floresça ou tudo acabará onde começou, na despretensiosa descoberta de um sentimento mútuo que pretendia crescer em uma noite de lua no quarto crescente?
A felicidade é mesmo uma receita a ser seguida? Um relacionamento estável, aproximadamente dez anos, uma casa -o lar-, a companhia, amigos em comum, o filme no final de semana etc., são as características de um casal, aparentemente, em momento de felicidade? O filme apresenta a história de Andres e Hugo, que a primeira, bem primeira vista, parecem felizes, mas que aos poucos dão sinais de que a relação vem se desgastando há tempos, e acompanha o empenho de apenas um dos envolvidos em não deixar que a lembrança do amor que um dia os uniu se apague por completo. Lua cheia fala de desgaste, de fim de ciclo e claro, da dor que inevitavelmente acompanha esse processo. Nós, expectadores, acompanhamos a deterioração de um relacionamento ao ponto de nos questionar se tudo que um dia possivelmente tenha contribuído para que o amor florescesse se tornou responsável para que ele, de igual maneira, termine, ao mesmo tempo em que o autor nos traz a hipocrisia, tão vivida em relacionamentos desgastados. Despedir-se, desfazer-se, admitir o fim dificilmente é uma tarefa fácil. Mas até que ponto o salvamento de algo impossível de ser salvo se justifica?
Há inúmeras pessoas que jamais conseguem se libertar e viver plenamente sua sexualidade, em boa parte dos casos os mais afetados e machucados com essa atitude são elas mesmas, que na decisão por sustentar mentiras, fazem brotar verdades que o passar das décadas cuida por solidificar na mente e no imaginário dos envolvidos. Em alguns casos, parece que a mentira deixa de existir e a verdade, bem, a verdade se torna uma prisão impenetrável. Você está sentado à mesa e partilha com a família sua vida; você tem esposa, filhos, netos, uma carreira modesta, entretanto respeitada e, apesar de ter conseguido o respeito de todos, não conseguiu respeitar a si próprio, prova disso é sua busca incessante por satisfazer os desejos arrastados para debaixo do tapete constantemente. Joaquín é um senhor que míngua por sexo e acaba conhecendo um garoto de programa por quem nutre um desejo, mas encontra dificuldade para conseguir o dinheiro cobrado por ele. Quarto minguante marca a escassez de diversas coisas, talvez a principal delas, seja amor próprio.